
[o evangelho dos filhos da puta]
O silêncio é
a voz cega
da solidão.
O ofício da vida é
levantar da chuva como
um louco se levanta
da morte.
Já fui o amante, hoje sou
o cão, o exemplo
retumbante: até o pecado tem
um lado sagrado.
E cravaram-se os dedos
na beleza explícita, no
pavor corrupto
da matéria.
A alucinação é a
viagem violenta, a
alegria implosiva
do desequilíbrio.
A ordem é um caos
encenado, um impulso permanente:
nada assusta mais do que a
insónia do medo.
Vejo em ti a
treva exaltante, a biografia
da carne: pelas cercanias
de ti há uma adolescência
transgressora, uma energia
abusivamente física.
A nosso favor só a
vertigem, o espectáculo
misterioso da impossibilidade.
Inventaste em mim um
impulso, uma armadilha:
somos em verdade
a culpa
branca: a metáfora
das regras.
Samba: s.m. Metáfora de alegria; todas as falhas são passos de dança.