
[a explicação da turba]
Há manifestos para tudo. O que é manifestamente néscio.
Nenhum manifesto muda nada, nenhum manifesto altera o que quer que seja. É só um monte de palavras bonitas e fortes, que elevam a moral de quem as escreve, e nada mais. A opinião pública não vai em cantigas, muito menos em manifestos. Existe a ideia, disseminada pela comunicação social, de que as massas, o povinho, são ignorantes e não sabem escolher. É por isso, por haver essa ideia parva e burra, que acontecem as desgraças. As pessoas têm sempre razão, que se fixe isto de uma vez. As pessoas não são burras, acrescente-se, já agora, isto. Quem não o perceber de forma clara arrisca-se a não ser entendido, e, pior ainda, a viver numa bolha em que tudo parece correr a seu favor. Até que chega um choque de realidade. Respeitar a maioria é respeitar a Humanidade, só os intelectuais, com a sua soberba, com a sua superioridade autoinfligida, o procuram negar até ao último dos seus dias, quanto mais não seja por uma questão de sobrevivência. Querem manter o seu estatuto, a sua capacidade de, acham eles, influenciar decisões. Mas não influenciam a ponta de um corno. Há que falar a linguagem do povo, e entender a linguagem que o povo fala. É o povo que muda o mundo, não quem o lidera. Só os medíocres desvalorizam a sapiência da maioria, querendo, com isso, colocar-se em patamar de superioridade, como quem diz "coitados, não sabem o que fazem", "coitados, são tão incultos", "coitados, não usam palavras caras". As palavras caras que se fodam. Para mudar o mundo não é necessário grande investimento em palavras, apenas em compreensão. Compreender o mundo é respeitar quem o ocupa, e se isto não é a coisa mais simples de entender então sou eu quem já não entende nada. Regressando ao começo: nenhum manifesto muda nada.
[a explicação dos adultos]
As crianças adoram tramar os adultos, mas não tanto como os adultos adoram tramar-se uns aos outros.
[a explicação da celebração]
Celebra-se tudo, até a desgraça alheia.
Correcção: celebra-se tudo, sobretudo a desgraça alheia.
[a explicação da vergonha]
A vergonha é uma das mais poderosas molas para acontecimentos revolucionários. Foi por vergonha que muitas grandes mudanças ocorreram, e que muitas outras deixaram de ocorrer. A vergonha tem um lugar muito próprio na História.
Subir: v. Movimento que só significa ascensão quando não significa alienação; há tanto quem, para subir, se aliene do que é; estar no topo pode ser o ponto mais baixo a que podes chegar.