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Pedro Chagas Freitas
Pedro Chagas Freitas COMO F***DER UM CASAMENTO Manual Prático para Mul

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Ocultar

Ocultar: v. Movimento involuntário de todos os humanos; somos aquilo que não conseguimos deixar de esconder. E um dos maiores fascínios da vida é não sabermos o que está por trás de cada porta.
27 de novembro de 2017 às 07:00
homem mulher
homem mulher

— Hoje, com a televisão avariada, vamos ter de fazer amor.

— Não sei se estou confortável com esse plano.

Conhecemo-nos quando a verdade se fazia do que queríamos ser, e não do que éramos,

a verdade no fundo pode ser sempre aquilo que queremos ser, eu acredito que sim, tu não?,

alguém é aquilo que crê ser,

nunca o é, quase nunca o é,

é tão difícil sermos o que cremos ser, um muro em redor do espelho, uma mentira feliz,

quem inventou a mentira procurava a felicidade, que mais?,

dizia-te que é possível sermos aquilo que cremos ser, não porque tendemos a aprender, somente porque tendemos a teimar, e de tanto teimarmos que é assim acaba por ser mesmo,

o mundo adapta-se ao que não tem adaptação possível,

o que não tem remédio remediado está, a minha avó no fundo da memória, o meu avô ao fundo da sala, a faca numa mão, uma maça na outra, um guardanapo à volta do pescoço,

existem as memórias para vivermos duas vezes, ou três, as que forem necessárias até que a vida, inteira, se passe no que não acontece.

a infelicidade não é ter memórias tristes, é não as ter,

temos a tarde toda para amar, haja uma cama e a vida acontece,

a cama foi a maior invenção do Homem, dirá qualquer pessoa apaixonada, ou então não está apaixonada coisa nenhuma,

temos a vida inteira pela frente quando estamos voltados para lá, para a frente, o segredo nunca é segredo algum, não existem segredos, só perspectivas insuficientes,

a perfeição é uma insuficiência feliz,

lá fora adolescentes descobrem-se na rua, junto à parede, segredam o que todo o corpo já mostrou,

coloque-se o corpo no banco dos réus e nenhum julgamento acabará sem sentença,

a música serve para enganar, a arte serve para enganar,

para que raios servirá a vida senão para enganar?,

passa-me pela cabeça a primeira vez que te vi chorar,

ninguém aprende a ver quem ama chorar, os teus dedos a limparem uma lágrima que te fiz cair,

que grande filho da puta é aquele que faz chorar quem ama, como se explica isso?,

disse-te o que doeu e doeu sem convite,

a pior dor é a que vem sem convite, a que chega de repente, estamos confortáveis e depois ela,

e depois tu, a tua primeira lágrima, um restaurante apinhado e eu solitário no interior do filho da puta que fui,

desculpa-me mas não estava pronto para ser tão grande, era um minorca antes de ti, um anão insuflado, pensava que acontecia o que me acontecia, que ingénuo,

só acontece o que nos faz acontecer,

um trocadilho e um beijo, passaria a minha vida a fazer trocadilhos para o teu sorriso, esse mesmo, o que fizeste agora,

temos uma cama e uma televisão avariada, e planos para nada fazer para a arranjar, Deus nos livre de uma avaria não servir para amar melhor,

podia escrever-te mais uns milhares de páginas sobre a forma como a tua pele gasta a minha sem nunca a cansar,

não o farei,

tu sabes porquê, ou pelo menos vais saber agora mesmo,

anda cá, vens?

Ocultar: v. Acto de colocar à frente dos olhos aquilo que impede de ver o que pensamos estar a mostrar; a melhor maneira de esconder não é impedir que o vejam — é impedir que o sintam.

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