
(os dez decretos dos apaixonados)
Só está à altura das tuas lágrimas aquele que faz tudo para que nunca chores.
Chorar, quando se ama, é sempre a dois. Tal como rir, quando se ama, é sempre a dois. O que um sente o outro sente – ou, se não sente, quer sentir e, de tanto querer, acaba por sentir também. Quando olhares para alguém apaixonado estás a ver duas pessoas. Ou então não é amor nenhum.
Amar é um acto de coragem. Nenhum amor sobrevive ao medo, mas também nenhum amor sobrevive à falta dele. Ama-se sempre com medo e com coragem. Amar é tremer e ir em frente em passos trémulos e ainda assim seguros. Ou então não é amor nenhum.
Sente-se o que se percorre, não onde se termina. És muito mais a estrada do que o lugar onde a estrada acaba. Ama-se o que se percorre juntos. Ou então não é amor nenhum.
O amor eterniza e torna breve ao mesmo tempo. Ou então não é amor nenhum.
O que interessa não vem na agenda. O amor é o que ultrapassa o interior do que estava previsto. Ou então não é amor nenhum.
A memória serve para amar: para amar várias vezes o que merece ser amado várias vezes. E serve, mais ainda, para selecionar; é certo que te vais lembrar, quando amas, de momentos dolorosos; mas também é certo que, quando amas, te vais esquecer conscientemente deles. Ou então não é amor nenhum.
Os apaixonados fazem. É essa uma das suas principais características: fazer, tentar, arriscar, ousar. Pode doer, claro; mas não fazer dói mais. Ou então não é amor nenhum.
Compromisso: eis aquilo que está na base da fiabilidade do que te une a quem amas. Compromisso absoluto: ou estás com tudo ou não vales nada. Ou então não é amor nenhum.
Estar satisfeito não é estar parado, não confundas. Mexe-te, reinventa-te no meio do que amas. Mas não asfixies o tanto que tens com o tanto que julgas precisar de ter. Relaxa. Encontra motivos para que uma liberdade singular te deixe respirar. Ama-se apesar de tudo, e sobre tudo ainda mais. Ou então não é amor nenhum.
10. Sabedoria é, ao ver alguém marchar no passo errado, não dizer que está incorreto, mas antes perceber que está a ouvir outra marcha.
Todos caminhamos o nosso passo. Caminhar a dois é perceber que nem sempre andaremos ao mesmo ritmo, nem sequer optaremos sempre pelas mesmas decisões em todos os momentos – não porque não nos amemos, mas precisamente por nos amarmos. Ama-se o que nos faz diferentes sem nos mudar. Ou então não é amor nenhum.
Jaula: s.f. Monumento à burrice; se nem um, e nenhum, animal é feliz enjaulado, como pode um amor sê-lo?