
Não deixa de ser surpreendente que, no mundo dominado por homens, tenha ocorrido em Portugal uma circunstância que coloca nalguns dos mais proeminentes lugares da Justiça várias mulheres. A Procuradoria Geral da República é liderada por Joana Marques Vidal, a Procuradoria Distrital de Lisboa, a mais poderosa do país, vai ser chefiada por Maria José Morgado e, finalmente, o ministério da Justiça tem à sua frente, Francisca Van Dunen, procuradora geral adjunta. Não se regista o facto, invocando como motivo de a todas elas serem reconhecidas elevadas capacidades profissionais. A estas figuras, quero juntar a bastonária da Ordem dos Advogados.
Nas últimas décadas, surgiram por força da emergência feminina na vida social activa, grandes quadros que raramente conseguiram passar de um patamar de subalternidade. O poder, dominantemente falado no masculino, escolhe homens para liderança de administrações, direções, relegando sempre as mulheres, mesmo que sejam mais competentes, para os territórios secundários da decisão.
É assim na política, na administração pública, nas empresas, mesmo que sejam cada vez mais as mulheres com graus académicos, maioritárias em quase todas as universidades. A cultura machista, na qual radicam algumas das explicações para a violência doméstica, tem resistido a esta emergência social que obriga à aceitação da igualdade de género por força da própria vida. Não deixa de ser curioso, a propósito, que surja uma mulher na disputa às eleições que se avizinham para a presidência da República com condições para poder ser eleita. É o segundo caso em mais de 40 anos de democracia.
São sinais dos tempos. Bons sinais, diga-se. Importa que o país saiba reconhecer esta reconstrução da cidadania sem olhar ao género, à raça ou à condição. Não tanto porque os cargos são mais ou menos bem desempenhados. Sobretudo porque esta ascensão reproduz expectativas de tratamento igual à luz de padrões que competência onde não intervem a diferenciação sexual. É, talvez, uma mera circunstância conjuntural. Simbólicamente é um sinal da História para a igualdade de géneros.