
O problema pode ser meu. Posso ter uns fins de semana esgotantes, tanta é a movimentação e a trabalheira fruto da pandemia, e chegar a domingo à noite de rastos. Tão cansada que só algo verdadeiramente entusiasmante me desperta da moleza do sofá que chama o sono em vez de me deixar concentrar no que os canais oferecem. E a verdade é que, de há umas semanas para cá, tem sido demais.
Hell’s Kitchen nunca teve o encanto do terrível Pesadelo na Cozinha, em que Ljubomir Stanisic podia dar largas à gritaria e à malvadez com os responsáveis dos restaurantes que ia visitar... mas animava-me. O chef, neste formato com o carimbo da SIC, sempre foi mais discreto, quase fofinho, compensado pela animação na cozinha e a vantagem de conhecermos, semana após semana, os concorrentes como num verdadeiro reality show. Porém, desde que a cozinha deu lugar ao pasto das vacas e das ovelhinhas, tudo mudou. Quem Quer Namorar com o Agricultor? tem uma bela imagem, mostra os campos nacionais, encanta-nos com tanta bicharada querida... mas o modelo já não surpreende. É certo que tem os favores dos espectadores, que lhe dá vitórias consecutivas face à concorrência, mas em vez de soar a ingenuidade, passou a ter traços de teatro, de produção já conhecida, com atores que perderam a inocência. Um enfado.
O pior é que, se mudarmos de canal, a canseira mantém-se. All Together Now e Got Talent são tudo menos previsíveis, é certo. Dos concorrentes aos vestidos das apresentadoras (mais ou menos exuberantes) tudo muda de semana para semana. Mas... chega? Entusiasma? Prende? Neste caso, os números de audiências de ambos dizem que não. Mas nada disso nos chega para encontrar uma explicação. O que se passa com a nossa televisão que se repete, que se copia? E nos faz adormecer mais cedo? Um serviço público para acordar fresco na segunda-feira, essa é a verdade...