
1. Tive uma professora na faculdade que adorava Henrique Garcia. Colegas na RTP, ela desfazia-se em elogios ao jornalista que se despediu dos espectadores no domingo, dia 1 de Maio. De vez em quando, para dar exemplos práticos, lá vinha o seu nome à baila na sala de aula, ou no estúdio. Que ele era um excelente profissional, que tinha uma voz e presença de sonho no pequeno ecrã e, ainda, um charme capaz de conquistar qualquer mulher à sua volta. Pouco tempo depois, tive a oportunidade de lhe fazer uma grande entrevista em Queluz de Baixo, já como um dos principais rostos da informação da TVI. Daí para cá, falámos mais uma meia dúzia de vezes, e confirmei o que muitos me diziam de si: uma referência da televisão, educada e afável.
Se, nas redes sociais, Henrique Garcia anunciou diplomaticamente a despedida da TVI com a letra de uma canção, ‘My Way’ – "e agora, o fim está próximo, vou enfrentar a cortina final… Fiz o que tinha de fazer, fiz à minha maneira" –, a um site assumiu a sua amargura com quem manda na estação. Afinal, com 70 anos completados em 7 de Fevereiro, ficou a saber, três ou quatro dias após o seu aniversário, que não contavam mais consigo. "Foram os parabéns que recebi: mandaram-me para casa. Fui apanhado no radar do excesso de idade." Sobre se houve algum cuidado por parte da administração neste processo, a resposta não podia ser mais clara: "Não. Foi uma comunicação escrita. Digamos que a atitude da empresa fez-me sentir descartável. E está no seu direito, mas eu merecia outro tratamento."
Obviamente que Henrique Garcia é um número. Obviamente que ninguém é eterno e insubstituível. Mas obviamente que também merecia mais respeito. Os seus cabelos brancos, pelo menos, exigiam isso. Mesmo que a homenagem no ‘Jornal das 8’, no domingo, dia 1, tivesse sido bonita, e foi, faltou qualquer coisa. Se calhar, uma conversa com quem manda na TVI, olhos nos olhos, em vez de receber um papel em casa, tinha ajudado a minimizar a mágoa.
2. A RTP já arrancou há muito com a operação ‘Festival da Eurovisão’, cuja final é no sábado, dia 12, e está a esbanjar esta oportunidade de ouro para fazer a diferença e ganhar espectadores à SIC e TVI. Optou-se pelo caminho mais fácil. Uma pena.