
Regresso ao tema dos influencers. Infelizmente. Miguel Melo teceu duras críticas a um responsável da TVI, sem identificar quem, revelando detalhes de um episódio que, segundo o ator de 55 anos, o humilharam. "Numa das últimas novelas da TVI em que participei, disseram-me que, no dia seguinte, teria uma reunião importante. Logo pela manhã, percebi que a urgência do evento se traduzia na aparição de uma diretora de Conteúdos da estação, que levava pela mão um rapazinho expert em redes sociais. Essa gente esteve ali uma manhã a convencer-nos da importância de ter seguidores. No fundo, foi uma humilhação ao trabalho e ao talento."
A discussão à volta de saber se foi Cristina Ferreira e um dos meninos da sua agência é irrelevante – também Daniel Oliveira, diretor de Programas da SIC, chegou a assumir que a escolha de Carolina Loureiro para protagonista de Nazaré tinha que ver com o seu número de seguidores.
A questão aqui não é essa. É outra: como é que a TVI e a Plural insistem nesta matéria? Bem sei que os tempos são outros, que a imagem, hoje, leva a melhor sobre o talento, que uns sapatos ou um biquíni superam os estudos, a voz ou o respeito pela profissão, mas isto é uma vergonha, e que contraria até uma recente entrevista do diretor-geral da produtora, Piet-Hein Bakker, por quem nutro simpatia e respeito. "Bastam dois ou três elementos do elenco – que por uma razão ou outra não têm talento – para estragar uma novela. Daí os nossos castings serem virados para o talento."
Não vale a pena recuar muito no tempo. Maus exemplos abundam na TV portuguesa, entre ficção e entretenimento, como Rita Pereira, Catarina Gouveia, Ruben Rua, Helena Coelho, Angie Costa, Mia Rose ou Francisca Cerqueira Gomes. Quem lucra com isto, com "artistas" que têm milhares de seguidores e que ultrapassam atores que nasceram e trabalham para representar? Os próprios, claro, e os agentes, evidentemente. Mas mais ninguém. De resto, perdem todos. Não concorda, caro José Eduardo Moniz?
Penso nos atores desempregados, naqueles que resistem à ditadura das modas do século XXI e... nos eternos Canto e Castro, Eunice Muñoz, Isabel de Castro, Nicolau Breyner e Carlos Santos, entre outros, que escaparam a esta selva. Que saudades vossas…