
Em França, vivem-se momentos de angústia idênticos àqueles que vivemos em Portugal quando desapareceu Maddie, a criança inglesa, no Algarve. Uma criança desaparecida é sempre um momento de perturbação emocional da comunidade, gera inseguranças, voluntarismos piedosos, a necessidade urgente de explicações para tal mistério. Não admira. Em cada desaparecimento reconhecemos a dor e a angústia que se apoderaria de cada um de nós, se tal acontecimento dissesse respeito à nossa família mais próxima.
As notícias fazem crer no pior cenário. Apontam para um presumível pedófilo que terá raptado a miúda, eventualmente abusou dela, desfazendo-se, a seguir, do corpo da inditosa vítima. É verdade que a história pode ser outra mas o caminho traçado pelas autoridades francesas apontam nesse sentido. As buscas pelo cadáver de Maelys continuam. Os pais desesperados até contrataram um bruxo para ajudar na procura. Não merecem censura. A dor e a angústia são tais que todos os meios são considerados benignos. Se nos colocarmos da pele deles, até contratávamos mais do que um feiticeiro. Porém, é o ponto de vista de alguém alucinado pela dor, incapaz de outro gesto que não seja agarrar-se a qualquer ponta da esperança.
Já o mesmo não consigo dizer sobre o bruxo. Vi as suas declarações e os seus exercícios na televisão. Ou é um homem doente ou não é sério. Faz parte do folclore sinistro que se aproveita do mar de sofrimento para alimentar narcisicamente as suas crenças. Acontece sempre, cada vez que um crime misterioso e mediático nos sacode a inquietação. Há sempre um bruxo disponível para o espectáculo negro da crendice e da burla emocional. Dali, não virá solução para o caso. Apenas multiplica a ansiedade.
Por outro lado, não se pode comparar este caso com o de Maddie. Tudo indica que não estamos perante pais desleixados que abandonaram os filhos para ir para uma festa. Quem cometeu o crime aproveitou exactamente a confusão de uma festa, um casamento, para desferir o golpe criminoso. Que as autoridades francesas tenham o talento para desvendar rapidamente este episódio trágico.