
Pressente-se um clima de fim de ciclo nesta euforia incontrolável que cruza os dias, cada vez mais cinzentos, do nosso País. A inflação disparou sem recuo à vista. Os salários, já de si baixos, depreciam. Os combustíveis sobem a preços nunca imaginados, a energia encarece, o cabaz de compras é cada vez mais magro, o setor da Saúde está pelas ruas da amargura, o tão cantado PRR já anda, como se previa, pelas ruas da amargura, a violência doméstica galopa a caminho de anos antigos, a violência de rua acelera e o País, qual Nero perante Roma a arder, canta e dança.
Os discursos políticos já não são mais do que bazófia vazia exortando o povo a acreditar numa utopia com pés de barro, a agenda preenchida com temas laterais, a ciclovia da Almirante Reis, paixões em torno da eutanásia, os golos de Cristiano Ronaldo enquanto é cortada a distribuição de alimentos a dezenas de milhares de famílias sem qualquer recurso, os campos não produzem para compensar os danos da guerra na Ucrânia, a indústria não fornece riqueza para sairmos da cepa torta e o consumo de álcool acelera.
A tempestade aproxima-se. É ouvi-los a distribuir culpas. É do Passos, é da guerra, do Luís Filipe Vieira, do Pinto da Costa, do Varandas, é de todos menos de quem governa. Quando se chega a esta necessidade de atribuir culpas e iludir desculpas estamos à beira de uma mudança qualquer. Os serviços públicos já são um desastre, a escola está pelas ruas da amargura, a Justiça é o labirinto mitológico onde se guarda o Minotauro, as Polícias estão exangues, as Forças Armadas na penúria. E o pior desta tempestade que se aproxima é que não se vê alternativa ou caminho diferente a seguir. Oposições sem qualidade, frustradas e frustrantes, qualquer palavra dada, é palavra desonrada, e são cada vez menos os sonhos, são cada vez mais os delírios.
Esta desorientação coletiva abre as portas ao fingimento de que se cumprem regras, à negociata, à orgia dos trambiqueiros, ao crime e à impunidade. Celebrámos o dia de Camões quando se sabe que mais de metade dos portugueses não lê um livro há anos. Celebramos a Língua e tratamo-la a pontapé. Celebramos com vinho. Bola e causas e já não queremos saber de desafios. Estrebuchamos com doença aguda de indiferença. O que nos vai valer, são os ventiladores que comprámos à China por causa da Covid. Que os Cuidados Intensivos nos salvem!