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Francisco Moita Flores
Francisco Moita Flores Piquete de Polícia

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Adeus, 2022!

2022 está de partida e não deixa saudades. O nível de decadência a que estamos submetidos, de degradação moral e política é de tal modo hediondo que nunca fez tanto sentido a citação que introduz o romance de Hemingway, 'Por Quem os Sinos Dobram': "E por isso não perguntes por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti." 
02 de janeiro de 2023 às 18:25
Fogo de artifício
Fogo de artifício Foto: Pixabay

2022 está de partida e não deixa saudades. O nível de decadência a que estamos submetidos, de degradação moral e política é de tal modo hediondo que nunca fez tanto sentido a citação que introduz o romance de Hemingway, 'Por Quem os Sinos Dobram': "E por isso não perguntes por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti." Dobram pelo povo ucraniano, submetido à matança indiscriminada de crianças, mulheres, velhos levada a cabo por um assassino bárbaro que este retirou a máscara de Estadista para se revelar na sua obsessão cruel por sangue e morte. E dobram por nós que, apesar dos inúmeros testemunhos do genocídio, não temos força para nos rebelarmos contra o Mal. Dobram por Masha Amin, a jovem assassinada pela Polícia religiosa do Irão e pelas dezenas de mulheres que tiveram o mesmo fim e dobram por nós que, perante este enxovalho da dignidade humana, não tivemos força para pouco mais de um gemido de protesto. Dobram pelas mulheres afegãs, impedidas de qualquer atividade sem a tutela de um macho, impedidas de estudar, de viver a sua condição humana, submetidas à mais radical opressão e dobram por nós que vemos, ouvimos e lemos e fazemos os possíveis por ignorar.

Dobram pelos escravos no Qatar e pelos escravos nos campos de Portugal, sem direitos, desprovidos de dignidade, sujeitos aos caprichos de negreiros e dobram por nós que sabemos, que conhecemos e permitimos que a política do faz de conta lavem as mãos como Pilatos, sujeitando-nos à vilania que a própria política, cínica e hipócrita, legitima.

Dobram pela caducidade da razão humana, submetida ao império dos poderes dominantes, que nos servem emoção a rodos sem uma resistência inteligente e digna aos vários movimentos da bestialidade humana que produziram Trumps, Bolsonaros e quejandos por toda essa Europa fora e dobram por nós, culturalmente desnutridos, que subjetivamente reforçamos estes movimentos alucinados quando desesperadamente nos entregamos nas paixões da bola, do concurso da moda, do herói do momento, sem que sintamos a alma suja por tanto servilismo.

2022 é o ano de todos os desaires para a dignidade humana. Lá fora e cá dentro. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram. Eles dobram por nós.        

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