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Francisco Moita Flores
Francisco Moita Flores Piquete de Polícia

Notícia

A polícia da moralidade

É difícil para uma mulher, ou um homem, com uma cultura ocidental, baseada na procura da igualdade dos direitos de cidadania (que incluem naturalmente a igualdade de género), compreender que milhões de mulheres, e de homens, estão sujeitos a um poder policial difuso, caprichoso, na posse de polícias, que podem prender porque uma mulher não usa hijab.
12 de dezembro de 2022 às 12:13
Irão, polícia, mulheres, polícia da moralidade
Irão, polícia, mulheres, polícia da moralidade Foto: Reuters

Muitos leitores talvez nunca tivessem ouvido falar da Polícia da Moralidade antes dos trágicos acontecimentos que levaram à morte de Mahsa Amin às mãos dos esbirros desta autoridade policial que atua no Irão, e noutros países muçulmanos, cuja primeira função, e a mais relevante, é perseguir mulheres. Dominá-las, subjugá-las àquilo que são os ditames consuetudinários (não me atrevo a dizer religiosos) que resultam do poder, mais ou menos severo da Xaria, lei criminal criada e construída com bases dos livros sagrados do Islão.

É difícil para uma mulher, ou um homem, com uma cultura ocidental, baseada na procura da igualdade dos direitos de cidadania (que incluem naturalmente a igualdade de género), compreender que milhões de mulheres, e de homens, estão sujeitos a um poder policial difuso, caprichoso, na posse de polícias, que podem prender porque uma mulher não usa hijab, lenço que garante que toda a cabeça e cabelos fiquem cobertos, que vigia a severa separação entre homens e mulheres, que persegue qualquer indivíduo com um corte de cabelo mais ocidentalizado ou porque usa 'jeans' ou porque qualquer mulher decidiu maquilhar-se. Polícia que tem o direito de louvar as mulheres que optam por usar o xador, vestimenta que cumpre as mesmas funções do hijab, sendo uma capa que se estende até aos pés. A mesma polícia, formada por homens e mulheres, que, no caso da Arábia Saudita, move intensa perseguição a mercadores, em véspera dos Dia dos Namorados, que tenham a ousadia de vender prendas que podem ser entendidas como de mediação para o namoro. E as punições vão desde processos de humilhação públicas, como chibatadas e apedrejamentos até a prisão cumprida em solitária.

Resumindo: a Polícia da Moralidade, obedecendo a ditames de inspiração religiosa, persegue, prende, pune, tortura, com abundante poder discricionário, sobretudo mulheres. E mata! Como aconteceu com a malograda jovem Mahsa Amin. Crime que gerou uma verdadeira rebelião no Irão com tal força que o Ayatollah decidiu extinguir a Polícia da Moralidade. Uma vitória dos direitos humanos? Desiludam-se. Outro instrumento repressivo estará na forja. A iniquidade precisa sempre de polícias para se manter no poder.       

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