
Atribui-se a Voltaire uma frase que exprime esse estado de espírito: "Discordo daquilo que dizes mas daria a minha vida para que o possas dizer". A visão radical da liberdade absoluta que sempre defendi. Até há poucos dias. Até ao dia em que o parlamento esqueceu a humanidade obrigatória naquele recinto de debate de ideias e invadiu a privacidade de uma mãe em aflição.
A mãe das gémeas brasileiras, que não cometeu qualquer crime, nem violou qualquer lei, uma mulher em aflição, clamando pela vida das suas crias, é merecedora de compaixão. Os crimes, caso existam, foram cometidos por outros. Por aqueles que em lugares de poder permitiram que fossem violadas leis portuguesas. Que não respeitaram o acesso ao Serviço Nacional de Saúde. Que usaram o poder como se fosse deles, ignorando que é apenas emprestado pelos eleitores. Esses não merecem tolerância.
O Parlamento humilhou esta mãe, e nela, todas as mães aflitas que clamam pelos seus filhos em sofrimento. Não foi justo e a impiedade não deveria ter assento naquele hemiciclo pois quando um qualquer deputado se torna vilão, rouba a dignidade a quem o elegeu.