
Ao escrever esta crónica, Bruno Carvalho está detido, aguardando para ser ouvido por um juiz que vai ditar o seu destino. Pouco importa esta decisão. Basta o Ministério Público ter encontrado indícios criminais para o apresentar a um tribunal e estamos perante uma possibilidade inacreditável. O presidente de um clube de futebol profissional arregimentou umas dezenas de rufias para espancarem o principal plantel, avaliado em centenas de milhões de euros. Em nome do amor ao clube.
A ser verdade, esta história é um verdadeiro coice na alma do desporto rei. Uma situação tão inédita, tão bizarra, tão estúpida que ninguém com um mínimo de sensatez consegue compreendê-la. Pior: revela até que ponto a soberba do poder absoluto pode levar a insanidade humana. E muito pior: desnuda apoiantes, que se dizem sportinguistas, que se dizem democratas, que levaram tal criatura em ombros até às portas do Inferno, julgando que batiam aos ferrolhos do céu.
A ser verdade esta história, será urgente expô-la com toda a sua crueza. Para que bandidos não sejam idolatrados. Para que neonazis não sejam aplaudidos pela barbárie, mesmo que estes novos bárbaros, doentes de clubite, sejam pedaços das pretensiosas elites nacionais.
A ser verdade esta história, Bruno Carvalho, que ainda não há um ano era o pastor maior de um rebanho de servos acríticos, é o exemplar único que a história do desporto vai mostrar como o maior inimigo do Sporting. Só um ser brutal e brutalizado poderia mandar espancar o maior património do seu próprio clube.
Quero acreditar que tudo isto é um pesadelo. Que a brutalidade que aconteceu em Alcochete foi uma explosão de ira de duas ou três dúzias de alarves sem escrúpulos. Não quero acreditar que distintos advogados, ilustres médicos, notáveis engenheiros, brilhantes políticos, magistrais comentadores levaram ao colo tal mostrengo, uma besta travestida de deus salvador. Não quero acreditar. Portanto, enquanto o juiz não apreciar o caso, que me aconchegue na ilusão de que não existe brutalidade assim. Que continue a acreditar que ninguém chegue tão baixo ao ponto de desiludir milhões de adeptos. Já imaginaram se isto fosse verdade? Não. Não pode ser.