
Está demonstrado que as cidades são as principais produtoras de crime. Sobretudo as grandes cidades, conhecidas por metrópoles que deram origem a manifestações criminais, historicamente desconhecidas antes da sua formação nos inícios do séc. XX. Para termos uma ideia daquilo que falamos, no caso português, as duas metrópoles de Lisboa e Porto são o palco de mais de cinquenta por cento da criminalidade portuguesa. Em cada quatro crimes que acontecem, dois são cometidos na metrópole de Lisboa, um na do Porto, restando apenas um para o resto do País.
É um desequilíbrio extraordinário. Num território com dez milhões de habitantes, é no espaço ocupado por quatro milhões que acontece 75% da criminalidade conhecida. Desequilíbrios que revelam os desequilíbrios demográficos entre o interior, as aldeias e vilas envelhecidas, e o pulsar do investimento, da riqueza, da desagregação dos laços psicoafectivos, típicos do viver metropolitano.
Ora, esta questão no merece a atenção que deveria merecer quando se fala de planeamento de território, sobretudo agora que, parece surgir, alguma preocupação com o interior do Pais. É óbvio que os índices criminais não podem ser lidos no sentido de distribuir democraticamente práticas criminosas. Mas devem ser tomados em conta para que se reconstruam laços de interconhecimento, laços psicoafectivos que reforçam o papel das redes sociais e policiamento, que garantam melhor distribuição de riqueza e mais equilibrada distribuição demográfica.
Este Orçamento de Estado que agora vai ser aprovado deveria incorporar esta dimensão social e económica. Fazendo decrescer o papel das metrópoles, humanizando as relações, equilibrando as malhas empresariais de produção de riqueza e fazendo renascer mais de dois terços do território há muito desprezado.
É o grande desafio nacional que a distribuição do crime nos propõe. Assim haja lucidez e vontade politica.