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Francisco Moita Flores
Francisco Moita Flores Piquete de Polícia

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Medo e Ódio

Oitenta anos depois das falas do ódio, a paz seria o lugar onde palestinianos e israelitas haveriam de se encontrar. Porém, com tanta raiva nos dentes, estão condenados ao apocalipse.
26 de janeiro de 2025 às 00:00
gaza, guerra, israel
gaza, guerra, israel Foto: NPR

Assisti ao momento em que os militantes do Hamas entregaram três das reféns israelitas ao cuidado da Cruz Vermelha Internacional. Perante aquelas imagens de uma multidão excitada pejada de homens fardados de negro, empunhando armas, a exposição de sentimentos controversos de medo e de ódio indiciam os piores prognósticos para os dias que aí estão a chegar. Aquele pedaço de terra, destruído pela força dos bombardeamentos, amalgamas de ferro contorcido e betão destruído explica de uma outra forma, a impossibilidade de construir uma nação em paz com os seus vizinhos. Os palestinianos são os verdadeiros ventres ao sol, despojados de tudo, de água, de abrigo, de alimento. Só a raiva e o ódio os mantêm vivos.

Por outro lado, os desaguisados no governo israelita entre os falcões da guerra, em revolta contra este cessar fogo, uma mera pausa na mortandade, com a demissão de vários ministros demonstra o mesmo estado de espírito dos militantes palestinianos. As emoções a atropelar a razão. O ódio a comandar as ações e a ideia de paz trucidada pela vontade da morte.

Foi com o coração apertado que assisti a estas imagens libertas dos pontos de vista com que habitualmente elas entram nas nossas casas. Ou revelam os olhos dos árabes ora os olhos dos judeus. A guerra, percebo agora, nunca será possível de parar. O objetivo israelita de liquidar o Hamas é uma ilusão ou, lido de outra maneira, o instrumento para provocar o genocídio da população de Gaza. As imagens da libertação das três raparigas são disso testemunho. Não é possível destrinçar entre população e militantes terroristas. Estão unidos pelo mesmo ódio. Por cada morto levantam-se novos guerreiros num círculo vicioso movido pela mágoa, pelo luto, numa palavra: pelo ódio.

Os nossos comentadores quiseram fazer deste início de tréguas um ponto de partida de um caminho até à paz. É a visão romântica de uma utopia que não habita no coração daquela gente. Na verdade, um dia de tréguas, e todos aqueles que se lhe seguirem, é uma boa notícia. Oitenta anos depois das falas do ódio, a paz seria o lugar onde palestinianos e israelitas haveriam de se encontrar. Porém, com tanta raiva nos dentes, estão condenados ao apocalipse. Infelizmente.

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