
Oano de 2024 prepara-se para nos deixar com nuvens negras, carregadas de tempestades, que auguram o novo ano ainda mais violento, mais ameaçador, com maior imprevisibilidade sobre os nossos destinos coletivos. Como se não bastassem as guerras de Israel e na Ucrânia, agora foi a Síria que surpreendentemente, sem o seu presidente Bashar-al-Assad que fugiu do país para a Rússia, seu aliado de sempre.
O poder está entregue a um governo provisório que tem por base as várias oposições ao até agora líder sírio. Sabendo-se da história recente deste país onde o Isis, fação ainda mais radical da Al-Qaeda, conseguiu dominar um território pelo terror e pelo assassinato, dos conflitos entre as várias fações que, de alguma forma, replicam tendências religiosas, é de crer que este golpe de estado (mais um dos muitos que aconteceram na Síria) não traga paz e abundância. Bem pelo contrário, alimenta instabilidade a uma região acossada pela guerra.
Se a Europa se queixava de ter demasiados conflitos à sua porta, então que se prepare, pois, os sinais são de agravamento com tudo o que isso implica na governação e nas economias ocidentais. A Síria ocupa um território que foi o nosso primeiro útero. Foi nesta zona que, há mais de dez mil anos, nasceu a agricultura, o cultivo de cereais e se desenvolveu aquilo que hoje conhecemos por pecuária. A sua capital Damasco é das cidades mais antigas da história e os fenícios, que chegaram às costas daquilo que mais tarde haveria de ser Portugal, são originários dessa zona do Levante. Foi um dos grandes apeadeiros da Humanidade ao longo de milénios.
Ali governaram os amoritas, os arameus, os hititas, persas e egípcios, o império dos caldeus e dos gregos e dos romanos, territórios onde a cristandade deu os primeiros passos. Bashar-al-Assad deixou atrás de si um rasto de sangue e de crimes contra o seu próprio povo, com o apoio da Russia de Putin, deixando para trás um país devastado pela guerra e que provocou uma das maiores debandadas de refugiados de que há memória.
Não foi um homem bom que fugiu de Damasco. Porém, num território tão fragilizado por guerras sucessivas não é prudente acreditar que, agora, chegou a bonança.
Com Trump nos Estados Unidos, com esta instabilidade a oeste, 2025 vai ser o ano em que iremos saber se a União Europeia é capaz de reagir a crises que se adivinham no horizonte.