
Já se desconfiava, antes de se saber os resultados das autópsias. Os dois bebés mortos em Cascais durante um parto surpreendente, afinal foram assassinados à nascença. Desconfiava-se da explicação da mãe que afirmava que não sabia estar grávida. Tornou-se suspeito esperar nove horas até pedir socorro. Era inquietante descobrir que um dos recém-nascidos estava no caixote do lixo. Foi espantoso saber que as colegas não deram pela gravidez da mãe.
Desconheço a história que está por detrás de toda esta encenação e, por isso, não conseguir apontar o dedo acusatório a esta mulher. Sabe-se que tinha dois filhos, que vivia com eles, e que pariu sozinha.
Há muita solidão e desespero em toda esta tragédia e, passados estes dias – mais de uma semana – sobre o sucedido, a mais inquietante das perguntas continua sem resposta:
– E o pai? Não há pai neste psicodrama?
Não existe notícia deste progenitor. Na verdade, nunca veio a lume quem se esconde no anonimato ou no mistério que está para além deste infanticídio. É que a sua ausência ainda torna mais dramática esta ausência tão evidente na solidão da parturiente.
É terrível a tragédia noticiada. Desconfio que por detrás dela está uma história tão negra quanto a que nos foi relatada. Que se revela durante a gravidez. Esta mãe escondeu a barriga, recompôs as formas que o desenvolvimento dos fetos provoca. Que razão a levou a este caminho sabendo, porque já fora mãe, que era inevitável o fim desse segredo? A espera pelo pai? A incapacidade de partilhar a sua situação com outro parente ou com outro amigo? São tantas as perguntas que precisam de resposta antes dela ser julgada.
Apenas existe uma certeza. Neste momento existem duas crianças, os filhos anteriores, que possivelmente estão definitivamente órfãos. Sozinhos. À espera que a Segurança Social lhes desenhe o destino. De toda esta história só resta mágoa. É difícil contá-la quanto mais vivê-la.