
Quantas justiças se albergam no conceito universal de Justiça? Quantas vezes, em nome da Justiça, se cometem os mais bárbaros e vingativos atos que se legitimam por detrás da toga do magistrado? Quantas justiças, ideológica e politicamente comprometidas, são oferecidas ao cidadão comum?
No caso de Kyle Rittenhouse foi-lhe entregue a desejada pelo lobby das armas norte-americano.
A história conta-se em duas linhas. Durante as manifestações do movimento Black Lives Matter, que se desenrolaram na cidade de Kenosha, no Estado de Wisconsin, houve distúrbios. Kyle, na altura com 16 anos, empunhando uma potente arma de fogo, saiu à rua contra os manifestantes. Diz ele que deseja defender os comerciantes da zona. E não esteve de modas. No meio da turbulência disparou três tiros. Matou duas pessoas e feriu uma terceira.
O caso, ocorrido nas vésperas das eleições, fez manchetes, rapidamente apropriado politicamente por republicanos e democratas, por militantes anti- armamentistas, por ativistas da venda livre de armas, por movimentos antirracistas, acumulando paixões, ódios e conflitos.
Agora, o júri do tribunal de Wisconsin veio a declarar o rapaz não culpado e que terá agido em legítima defesa.
Trump veio aplaudir a decisão, uma das associações de defesa das armas vai oferecer a Kyle outra arma, igual àquela com que assassinou duas pessoas, a Direita mais conservadora rejubila, os Democratas, a fazer fé nas declarações do presidente Biden, estão zangados.
As imagens recolhidas no momento do veredicto mostram um puto de 17 anos assustado, muito emocionado, mal se sustendo de pé devido ao medo. A família foi escondida em parte incerta. As manifestações contra e a favor da decisão multiplicam-se.
Nada mais a dizer. Este é um pedaço de justiça que, terminando como comecei, me leva a perguntar: é esta a ideia de Justiça que albergamos dentro de nós?