
Este é o melhor exemplo que tenho à mão e que os nossos leitores por certo compreenderão para que se saiba do que se trata quando se fala de insegurança. Nos últimos meses do ano passado e nos primeiros deste que agora corre, temos sido bombardeados por diferentes discursos apocalípticos, a propósito da criminalidade, que ainda ressoam os ecos desse debate estéril que associa os sentimentos de insegurança aos aumentos dos números da criminalidade.
Diga-se, desde já, que não existem grandes flutuações no que respeita ao crime participado às autoridades, motivo, que só por si, despedaça o histrionismo com que se ouviram os nossos dirigentes políticos. Na verdade, como dizia um velho mestre, quem não sabe, teoriza. E, por tal razão, pouco importa que os factos nada tenham a ver com os discursos sectários, histérico, invocando medos, porque para mudar os discursos era necessário mudarmos de políticos.
Infelizmente são raros aqueles que não possuem os mesmos tiques dos actuais donde morre a singela esperança de sermos dirigidos, quer no governo quer na oposição, por gente que é escrava da verdade. O apagão que o País sofreu a semana passada é o melhor exemplo da tese que, ao longo de anos, venho a defender nestas páginas. De súbito, os nossos quotidianos foram alterados dramaticamente com o corte geral de energia.
Passadas as primeiras horas, percebeu-se que estávamos perante um fenómeno singular. A luz não regressava e, por outro lado, a nossa vida começou a desligar-se. Os telemóveis deixaram de funcionar, passado algum tempo, em várias zonas do País, o abastecimento de água entrou em rutura, nas grandes cidades os semáforos desligaram, lançando o caos no trânsito, a passagem das horas sem previsão da solução do problema provocou uma corrida aos combustíveis e às grandes e pequenas superfícies comerciais com múltiplos fenómenos de açambarcamento de bem essenciais e não essenciais, como a compra de pilhas elétricas, lanternas e outros materiais do género.
Formaram-se filas nas bombas de combustíveis e sabe-se lá por que razão, em muitos locais esgotou o papel higiénico. Quem já se esquecera da fúria açambarcadora do tempo do Covid aí esteve, outra vez, o povo assustado, inseguro, sem paciência para ouvir dislates sobre a segurança criminal, quase em pânico. Como se viu, não existe razão nenhuma para escutar as carpideiras que nos querem convencer que estamos assustados por causa dos crimes. Diga-se, em abono, da verdade, que durante este estado de insegurança nacional, a Polícia não detetou qualquer aumento da criminalidade participada.