
A FIFA, no seu afã para abocanhar milhões de dólares, cedeu e decidiu que este Mundial de futebol fosse realizado num país em que os direitos humanos são tratados como lixo. Em que as mais elementares liberdades do Mundo mais avançado não passam de esfregonas sem dignidade e valor. Não são só os direitos das mulheres que não existem. Pelo que se sabe da construção dos estádios que servem este Mundial, os direitos laborais são coisa desconhecida. A vida dos escravos tem pouco valor, daí que as autoridades locais não se tenham importado com os milhares de vítimas que a construção da ‘cidade do Mundial’ provocou.
Nenhum governo de qualquer país democrático protestou contra a decisão da FIFA. Pura e simplesmente não quiseram saber. O que importa é o futebol, seja jogado onde for.
Só agora, quando entre a opinião pública surgiu o desagrado, e o protesto, por se ter admitido que a festa maior do futebol se realizasse num país que despreza os valores humanos mais fundamentais é que os governos começaram a rabiar. É tarde. Como sempre, é tarde! O Mundial começou, os adeptos instalaram-se no Qatar e viva a festa!, que se faz tarde.
É neste jogo onde de um lado surge a exemplaridade cívica e, do outro, um Estado criminoso, que os nossos supremos chefes foram confrontados com o facto de irem viajar para o Qatar para apoiar a Seleção Nacional.
Embrulharam-se em explicações idiotas, algumas delas de mau gosto, para justificarem a sua ida, sabendo que a sua presença vai servir para legitimar a barbárie.
Reconheço que é tarde para fazer marcha atrás. Que é tarde para afirmar solenes posições de princípio que, agora, sabem a hipocrisia deslavada.
O momento certo teria sido quando a FIFA decidiu este destino medieval. Era aí, com protesto vigoroso contra essa decisão que as autoridades democráticas deviam ter posto um travão e denunciado a traição aos direitos humanos que as ditaduras realizam. Na altura, comeram e calaram. Agora gemem por bênçãos que não merecem. Valha-nos o Santo dos hipócritas!