
É inquietante perceber que, dia após dia, as notícias que nos entram pelo ecrã são, na sua maior parte, histórias de violência. Histórias de brutalidade extrema que chegam dos vários cantos do Mundo, com particular destaque para a Ucrânia, para o Irão e para a Síria, para além da violência interna, nascida nesta terra, onde dia após dia surgem mais mortos, mais agressões como se uma mão invisível rendilhasse uma imensa teia de morte gratuita que, aos poucos, nos vai mergulhando numa realidade bem distante daquela que idealizamos quando sonhamos, e combatemos, por um País mais justo e por um mundo mais fraterno.
Ao escutarmos os discursos dos líderes políticos e, simultaneamente, testemunhar as suas práticas, deveria causar uma enorme repulsa. E não causa. Aceitar, ainda como hipótese académica, o que já não é o caso, a discussão sobre a forte possibilidade de se utilizar arsenais nucleares já não merece repúdio. A lição de Hiroxima foi esquecida ou está esbatida na memória coletiva para que haja ousadia para banalizar tal possibilidade. A nível interno, as agressões a professores e outros profissionais da administração pública, o crescimento da conflitualidade noturna, as mortes por violência doméstica – esta semana morreu mais uma mulher –, deixaram de ser acontecimentos que mobilizam a atenção de especialistas e responsáveis políticos, para serem tratados como notícias de rodapé. A morte despiu-se de qualquer vínculo afetivo, tornou-se companheira suportável, como se fôssemos abdicando da nossa própria humanidade quando a conhecemos, assim, tão vulgar, tão medíocre, sem que nela persista um pingo de memória.
Estamos a caminhar a passos largos para a descrença nos sonhos que construíram os Estados modernos, previstos como pilares da paz, da justiça, do respeito pelos direitos de cidadania.
A comunicação social tem um papel fundamental a desempenhar neste derradeiro combate pela dignidade humana. Não pode soçobrar à mediania do fácil, ao namorico pela emoção mais extrema, sem a explicar ou, pelo menos interpelar. É um tempo ruim, este, que confunde criminosos com estadistas, massacres de inocentes com lutas justas. É tempo de começar a resistir à demência do fácil. E tornarmos a sonhar com a paz!