
Há momentos decisivos. Momentos em que se perde ou se ganha tudo. Felipe de Espanha viveu esse momento no passado fim de semana, perante uma multidão em fúria, na cidade destruída pela água e pela lama, desesperada com a sua própria sorte. Multidão que se revoltou contra a presença dos reis – seja lá qual for o argumento menos claro do que a tragédia que tenha conduzido àquele momento. Revoltou-se, gritou, apupou, atirou lama.
E a tudo isso Felipe respondeu com ‘colo’, com ficar, ouvir, falar, estar ali, abraçar. Não fugir como um político. Permanecer como um verdadeiro rei, que apoia os seus, como é suposto. Foram momentos impressionantes aqueles, documentados em vídeo, nas televisões de todo o mundo, em fotografias de uma densidade dramática como poucas. E assim, de um momento para o outro, tal como a água chegou, empurrou terra e com ela carros, bens, pessoas, desgraçando a vida de tantos, de repente, sem ninguém esperar, do nada, também a coroa espanhola recuperou a dignidade que andava meio perdida, com o gesto certo no momento decisivo, também sem ninguém esperar, sem nada programado, apenas da resposta pronta às circunstâncias do acaso.
Felipe passou de "banana" a "herói", a símbolo de coragem e resiliência. Felipe foi rei. Letizia foi rainha. Assim continuem.