Como o irmão de Maddie McCann fez da dor a sua força: aos 20 anos, é um nadador exímio e apontado como uma das estrelas dos próximos Jogos Olímpicos
Sean e a gémea, Amelie, tinham apenas 2 anos quando a irmã mais velha desapareceu do quarto onde todos dormiam, no Algarve. Cresceram entre o desespero e a esperança dos pais, sendo que foi a sua alegria que agarrou Kate e Gerry à vida. Hoje, 18 anos depois, ambos são atletas de sucesso e ele poderá ser uma das estrelas dos próximos Jogos Olímpicos.A história dos gémeos Sean e Amelie confunde-se a todo o momento com a tragédia em torno da irmã, Madeleine McCann, que desapareceu de forma nunca esclarecida do quarto onde dormia, no resort Ocean Club, na Praia da Luz, Algarve, onde a família passava férias, em maio de 2007. Os bebés, de 2 anos, estavam no mesmo quarto do que a irmã e toda a sua vida a partir desse momento se modificaria. Cresceram entre as lágrimas dos pais, Kate e Gerry, e os sorrisos que, durante muito tempo, só eles lhes eram capazes de lhes arrancar.
Em casa, era impossível haver tabus. Durante os anos seguintes, o rosto da irmã e as buscas incessantes para a encontrar, estavam por todo o lado, imiscuíam-se nas dinâmicas da família, faziam com que tudo girasse à volta de Maddie, na expectativa de como seria o dia em que a poderiam reencontrar. Desde muito cedo, Kate e Gerry contaram a história aos gémeos, primeiro de forma a que duas crianças pequenas pudessem entender, e à medida que o tempo ia passando, com todos os detalhes que já teriam idade para compreender.
Aos 4 anos, os pais contavam que os gémeos já diziam que queriam encontrar a irmã e quem lhe fez mal e em 2016, ao falar sobre as crianças, então com sete anos, Kate adiantava que Maddie continuava a ser uma presença muito forte no seio da família. "Os gémeos estão ótimos. Eles cresceram essencialmente sem Madeleine, sabendo que a irmã está desaparecida e querem-na de volta. Eles sabem de tudo, quando nos vamos encontrar com a polícia, etc... Não escondemos nada deles."
Apesar da exposição a que a história da irmã sujeitou os filhos, Kate e Gerry tentaram que os gémeos tivessem direito a crescer como crianças felizes com rotinas normais, dentro da singularidade do seu mundo. Foi por isso, e certamente pelo pânico de quem perde um filho desta maneira, que os McCann cedo deixaram de partilhar imagens das crianças, ainda que não tenham deixado de falar destas e da forma como sempre as envolveram no movimento de tentar encontrar a irmã, o que a dada altura, revelou Kate, seria para os gémeos uma forma de curar os próprios pais da "dor, tristeza, ansiedade, frustração e raiva", com que os viram toda a vida a lidar.
A tragédia é indissociável da vida dos gémeos, mas esse terreno árido foi também uma alavanca para que crescessem com um grande sentido de resiliência e, curiosamente, foi no desporto que Sean e Amelie encontrariam um escape para o peso do mundo paralelo que sempre marcou a sua vida. A rapariga estabeleceu-se como atleta promissora na modalidade de Triatlo, enquanto Sean se revelaria um ás da natação, na cidade onde cresceram, Leicester.
Hoje, com 20 anos, tem no seu currículo diversas medalhas que levam a que seja considerado uma promessa da natação e que seja apontado como uma das estrelas mais promissoras que podem representar Inglaterra nos próximos Jogos Olímpicos, que se realizam em 2028, na cidade de Los Angeles. Ele próprio assume que isso é uma meta em algumas das entrevistas que já deu e nas quais afirma que o foco na natação é tanto que se levanta às quatro da manhã para treinar e conseguir conciliar o desporto com o curso de Engenharia Química que frequenta.
Já Amelie permanece mais arredada dos holofotes mediáticos, mas recentemente, num ato público de homenagem à irmã, surgiu ao lado dos pais, mostrando como está bonita e crescida.
Apesar de, nas suas vidas privadas, preferirem não colar a sua história à da irmã desaparecida, é impossível fugir do interesse mediático em torno de Sean e Amelie, os gémeos que passaram a ser famosos ainda no colo dos pais e que se tornaram, também, um pouco entes queridos de todos aqueles que acompanharam e acompanham o drama sem fim dos McCann.
"Em casa, estamos quase sempre ocupados, como em todos os lares, mas há um vazio que permanece nesta família de cinco pessoas. Não é algo que fazemos conscientemente, mas a urgência de encontrar Madeleine mudou tudo", disse Kate recentemente, numa frase que explica bem o calvário.