De aluna certinha a mãe liberal: as manias e as noites sem dormir de Alexandra Leitão, a primeira mulher que poderá chegar a autarca de Lisboa
Com a corrida à Câmara de Lisboa já na reta final, conheça Alexandra Leitão, a aluna a quem Marcelo Rebelo de Sousa anteviu um percurso brilhante, que pode roubar o trono a Carlos Moedas na principal autarquia do País mas que, no fim do dia, é uma mulher com os dramas de tantas outras...As eleições autárquicas aproximam-se a passos largos e com as últimas sondagens a darem empate técnico entre Alexandra Leitão e Carlos Moedas, os olhares debruçam-se sobre o perfil dos dois principais candidatos à Câmara de Lisboa, que por vezes até se encontram nas suas próprias diferenças.
Uma das características pessoais que talvez os una é o facto de ambos terem feito percursos académicos brilhantes, sendo os chamados "certinhos" nos estudos. E se Moedas viu a sua formação ser reconhecida na prestigiada instituição norte-americana de Harvard, Alexandra seria uma das alunas mais apreciadas de Marcelo Rebelo de Sousa, que ainda hoje faz questão de tratar por "senhor professor".
"Jornada académica com sucesso. Mais uma professora virada para o futuro: Alexandra Leitão. Vai ouvir-se falar dela, em vários tablados, universitários e institucionais", escreveria o atual presidente da República à época sobre a aluna, agora candidata socialista, numa altura em que ainda estava bem longe dos horizontes de Alexandra entrar no universo político.
Ainda na faculdade, conheceria o marido, João Miranda, filho do constitucionalista Jorge Miranda, com quem teve duas filhas, atualmente já maiores de idade, que foram educadas no Colégio Alemão, com Alexandra a justificar a escolha pelo facto de ser uma escola "com prestígio internacional". Apesar de ser fiel ao estilo 'certinho, direitinho', foi talvez na educação das duas filhas que a socialista se mostraria mais liberal.
Em conversa com Guilherme Geirinhas, durante a campanha eleitoral, afirmaria que sempre lidou de forma natural com as questões inerentes à juventude das filhas. "Eu até acho que em termos de educação das minhas filhas sou mais liberal, até nas saídas à noite. Eu tenho uma filha que fuma e fumou sempre na minha frente. Sou mãe de fumadora e filha de fumadora e tenho alguma compreensão", explicou Alexandra, que apesar de ter um casamento duradouro, admite que em algumas questões este está longe de ser convencional. Isto porque a socialista é uma noctívaga assumida e as suas horas de trabalho estende-se frequentemente pela madrugada fora, enquanto o marido é mais adepto do 'deitar cedo e cedo erguer', o que levou a algumas brincadeiras entre os dois ainda durante a fase de namoro. "Costumava dizer que nós éramos a empregada de limpeza e o guarda-noturno, sendo que eu era o guarda-noturno."
“Ponho o computador no colo e tac, tac, tac, trabalho até à 1h sempre a ver televisão, noticiários por exemplo. O meu serão é destinado a despachar no mínimo 150, 200 e tal emails que entram diariamente. Pedidos de audiência, correio do cidadão (a que respondo sempre, quando não são insultos", explicou à 'Sábado', acrescentando que só pelas três da manhã é que vai para a cama, um hábito conhecido de vários colegas e que faz com que lhe enviem mensagens tardias para colocar as ideias de trabalho em dia, ainda que a altas horas. "Eu deito-me tarde, muito tarde. Vou-me deitar às duas, três... Depende. E depois, se puder, se eu puder só acordar pelas oito e meia, nove, já é ótimo. Se dormir menos do que cinco horas, fico rabugenta. Eu sou uma pessoa noctívaga. Portanto, tenho várias pessoas que já me conhecem bem e que facilmente me mandam mensagens à 1h e às 2h da manhã – e eu estou-lhes a responder a essas horas", referiu na mesma reportagem Alexandra, de 52 anos.
O INÍCIO DA CARREIRA POLÍTICA
Seria através do marido que Alexandra conheceria Tiago Brandão Rodrigues, o ministro da Educação, que viria a ter um papel importante na sua ascensão política, onde Alexandra é vista como um 'animal de palco'. Com uma capacidade de argumentação acima da média, não vira a cara a um desafio, mesmo que confundam esse combativismo com "cólera" ou "impulsividade", sendo tantas vezes descrita como "fria ou calculista". “É uma pessoa de causas, simpática, afável e combativa e que não é de se deixar intimidar ou afrouxar”, disse ao 'Expresso' o ex-colega e amigo Nuno Cunha Rodrigues, destacando a sua transparência como uma qualidade, que rapidamente se pode transformar num defeito no cenário político.
Mais recentemente, acabaria por se tornar numa espécie de braço direito de Pedro Nuno Santos, ainda que a relação há muito tenha esfriado, com Alexandra a lançar-se por conta própria na corrida à Câmara de Lisboa, onde se tem mantido sempre fiel a si própria.
É que, apesar de habituada às luzes da ribalta, ao comentário político e às televisões, Alexandra não se deixa seduzir pelos brilhos da fama e desde sempre fez questão de não alterar a sua imagem. Avessa à maquilhagem, não gosta de se sentir outra pessoa e, por isso, prefere assumir o seu eu natural. "Eu sou assim. Eu não quero ser um boneco", afirmou numa das primeiras vezes em que foi à televisão e aconselhada a arranjar o cabelo.