Francisco Pedro Balsemão, o filho caçula que assumiu o legado do pai com a benção dos irmãos, mas que teve de enfrentar as reticências do próprio Francisco Pinto Balsemão
Chegou à Impresa com 29 anos, mas quando, após a saída de Pedro Norton, decidiu candidatar-se ao cargo de CEO, admite que o pai, Francisco Pinto Balsemão, não entrou em euforias. "Chutou um bocado para canto", contaria Francisco Pedro, o mais novo de cinco irmãos, que cresceu entre o peso de "ser filho de" e o desejo de trilhar o seu próprio caminho. Tímido, admite que tinha pavor de falar em público, mas que herdou da mãe a teimosia que tantas vezes o fez dar o passo em frente. Com os quatro irmãos – de três diferentes relacionamentos do pai – diz ter atingido a harmonia familiar. "Podíamos não nos dar, andarmos aqui à cabeçada, mas damo-nos todos muito bem."Francisco Pinto Balsemão sempre se orgulhou da família numerosa e, acima de tudo, do espírito de união que, com o passar dos anos, marcou a relação entre todos. Depois da integração tardia de Francisco Maria – o terceiro filho, nascido fora do primeiro casamento, que o fundador da SIC só reconheceria após uma disputa judicial – os cinco filhos, de três mulheres diferentes, passariam a conviver de forma harmoniosa, como descreveria o mais novo, Francisco Pedro, de 45 anos, na entrevista que deu ao programa 'Alta Definição'.
"O meu pai teve três mulheres. A minha irmã Joana (ambos fruto do casamento com Tita Balsemão) foi com quem passei toda a minha infância e adolescência, mais do que com os outros três irmãos. A idade deles, a diferença é grande, não tinham tanta pachorra para mim na altura. Claro que com a idade isso foi-se esbatendo e hoje somos muito unidos, uma família muito unida. Eu costumo dizer que nós temos os cinco muito orgulho no nosso pai, mas acho que ele também tem muita sorte. Ele tem cinco filhos de três mulheres diferentes, e nós podíamos não nos dar, andarmos aqui à cabeçada, mas damo-nos todos muito bem", fez saber aquele que acabaria por assumir a continuidade do percurso trilhado pelo pai na Comunicação Social, ainda que tudo tenha acontecido de forma muito natural.
Com apenas 29 anos, Francisco, formado em advocacia, acabaria por entrar para a Impresa para assumir o cargo de diretor de Recursos Humanos. O próprio explica que, antes, quis fazer o seu percurso fora da empresa e desenvolver aptidões, precisamente para não sentir o estigma de só ali estar por ser 'filho de'. Um peso que carregou desde muito cedo – o agora CEO do grupo recorda uma história no prestigiado colégio Saint Julian's, em que um colega lhe confidenciou que o pai lhe tinha dito que tinha de ser seu amigo, por ser filho de Balsemão – mas do qual tentou fugir com a convicção de que batalhava o suficiente para que o seu trabalho falasse por si.
Foi apenas vários anos depois de ter entrado na estrutura da Imprensa que se proporia ao trabalho cargo de CEO. Antes, e por esta ordem, sentar-se-ia com a mãe, reuniria com os quatro irmãos, e só depois de perceber que todos estavam de acordo, formalizou a intenção ao pai de apresentar a sua candidatura. No entanto, a primeira reação não terá sido muito efusiva. "Fui falar com a minha mãe, com os meus irmãos e depois com o meu pai. E disse que ia apresentar a minha candidatura ao cargo, depois de ter falado com toda a gente, e perceber que estavam todos de acordo. O meu pai chutou um bocado para canto. Ele não queria que o filho se queimasse. Mas passadas algumas semanas, lá achou que era boa ideia, depois de eu lhe apresentar as minhas ideias, e em março de 2016 passei a ser CEO. Muitos acharam, e ainda podem achar, que eu passei a ser CEO por ser filho de quem sou, mas isso nunca me afetou, tenho confiança em mim."
Uma tarimba que foi conquistando, mas que, assume, está longe de ser inata. No colégio, tinha pavor de falar em público e era um castigo sempre que tinha de fazer uma apresentação oral, num assunto que se obrigaria a resolver quando entrou na Impresa, não tendo agora receios ou pruridos de enfrentar o público.
Criado num ambiente de privilégio, mas também de muita pressão – Balsemão foi primeiro-ministro nos primeiros anos de Francisco na vida escolar – diz que o pai sempre lhe ensinou a ser grato pela vida diferenciada, enquanto da mãe herdou o sentido de família e uma teimosia, que faz com que nunca desista daquilo a que se propõe.
A FAMÍLIA QUE CONSTRUIU AO LADO DE MARIA
Hoje, Francisco gere a vida de CEO da Impresa com a familiar, num equilíbrio que tenta que seja sempre perfeito. Com três filhos, fruto do longo casamento com Maria Zagallo, admite que não falta a uma peça de teatro ou outro momento importante da prole na escola, e que para não falhar em nada, sacrifica muitas vezes as noites, razão pela qual passou a ser uma espécie de 'bombeiro de serviço' para acolher às demandas das crianças nos seus sonos interrompidos. "Nunca os ouvi chamarem pela mãe", brincou na entrevista, onde teceu grandes elogios à sua parceira de vida, com quem só se casou depois do nascimento dos dois primeiros filhos.
"Casámos em 2018, já tínhamos dois filhos, fizemos uma festa mais ou menos pequena. Mas eu já tinha ameaçado fazer o pedido há algum tempo e ela dizia sempre que não queria. Então, no dia de Natal, convidei-a para o casamento dela: dia 31 de março, às 18h00, ou seja, três meses depois. Distribui os convites por todas as pessoas da família e no dia 31 de março estávamos a casar. Ela disse um palavrão", contou, acrescentando que a companheira é o seu porto de abrigo.
"Estamos juntos há cerca de 18 anos e é a minha alma gémea. Não sei o que seria a minha vida sem a Maria. É estranho dizer isso, mas há uma parte da minha vida adulta que vem sem a Maria, mas, sinceramente, lembro-me pouco disso. Acho que construímos juntos um caminho muito bom, também muito baseado na paixão. A parte da paixão é muito importante porque a vida do dia a dia é tramada, estamos sempre a correr de um lado para o outro, a Maria trabalha tanto ou mais do que eu. Portanto, às vezes, temos menos oportunidades do que as gostaríamos para manifestar o nosso amor um pelo outro. Mas fazemos por isso, passamos fins de semana juntos, vamos viajar juntos e, para isso, temos também os meus sogros, que são fantásticos e ficam quase sempre com as crianças”.
Um equilíbrio que, como o próprio diz, o ajuda a não tirar os pés da terra e a estabelecer, fora da Impresa, uma espécie de redoma que o protege do stress contínuo que pauta a sua vida, na qual se prepara para enfrentar duros embates, uma vez que, ainda a fazer o luto pela morte do pai, há as negociações a decorrer com a família Berlusconi para a venda uma "participação relevante" do grupo Impresa – dono da SIC e do 'Expresso', o que levará a grandes mexidas na estrutura.