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Dos tempos de 'Príncipe' ao casamento aberto e ao passado polémico com Chris Rock: o sinuoso percurso de Will Smith

É um dos mais famosos atores da nossa geração e uma das personalidades mais poderosas de Hollywood. Antes do cinema fez história como rapper, mas não faltam episódios insólitos na sua vida atribulada.
Afonso Coelho
Afonso Coelho
31 de março de 2022 às 22:54
Will Smith com Jada Pinkett Smith
Will Smith com Jada Pinkett Smith Foto: getty images

Conhecemo-lo como músico, como ator e agora como o autor do momento mais inolvidável dos últimos anos das cerimónias dos Óscares, após a surpreendente agressão a Chris Rock em pleno palco do Dolby Theatre, em Hollywood. Will Smith está de novo nas bocas do mundo, como esteve em vários pontos da sua carreira, tendo alcançado o cume do mediatismo na década de 1990... e de nunca lá saído.

Chris Brown e Will Smith
Chris Brown e Will Smith Foto: getty images

Este é o percurso de uma das estrelas da nossa geração, entre bons e maus momentos, numa dicotomia que ficou perfeitamente ilustrada no episódio do passado domingo, numa noite que todos esperavam que fosse (apenas) de consagração para o multifacetado norte-americano de 53 anos.

DE FILADÉLFIA PARA O MUNDO

Os primeiros passos de Will Smith no mundo da arte foram dados como rapper sob o nome ‘The Fresh Prince’, em 1985. Tudo começou na sua Filadélfia natal, quando Will se disponibilizou para substituir o parceiro do DJ Jazzy Jeff numa festa que tinha lugar na sua rua: "A química foi instantânea", explicou o produtor numa entrevista de 2002 ao ‘Philadelphia City Paper.’ Daí, demorou pouco até ao sucesso no mundo da música: a dupla DJ Jazzy Jeff & The Fresh Prince lançaria o primeiro single em 1986, ‘Girls Ain’t Nothing But Trouble’, e em 1987 o primeiro álbum, ‘Rock the House’, já com a editora independente Jive Records.

No ano seguinte, a dupla fez história ao ganhar o primeiro Grammy de sempre dado a um artista de rap, mas acabaria por boicotar a cerimónia por esse prémio não ser exibido na televisão. O segundo Grammy chegou em 1991, mas a dupla, por acharem que não iriam sair vencedores, voltou a não comparecer na cerimónia.

Para compensar estas duas ausências, Will Smith, após mais um galardão, subiria finalmente a palco em 1998, naquele que foi um dos mais marcantes discursos da história dos Grammys, para dedicar, também em nome de Jazzy Jeff, o prémio aos seus dois "profetas", Tupac Shakur e Biggie Smalls, ícones musicais que faleceram naquela década: "Há dois anos e meio o estado do rap era tal que eu já nem queria ser rapper, foi a era das trevas do rap. Com a perda do Tupac e do Biggie, a indústria levou um abanão e percebemos que, ainda que sejamos artistas, temos uma responsabilidade pelo que entra nos ouvidos que ouvem a música que nós fazemos." No ano seguinte, Will Smith voltaria a ganhar um Grammy, estabelecendo-se ainda mais como um dos mais importantes nomes do rap deste período.

UM 'PRÍNCIPE' NAS MALHAS DA LEI... E DE UM TRAFICANTE DE DROGA

Nessa altura, Will Smith era já uma estrela também enquanto ator, carreira pela qual ficaria conhecido nas décadas seguintes. Contudo, a passagem do estrelato musical para o estrelato televisivo e da Sétima Arte não foi fácil e também por culpa própria.

Num evento de promoção da sua autobiografia ‘Will’, escrita em colaboração com Mark Manson e lançada em 2021, o artista detalhou como teve de pedir dinheiro emprestado a um traficante de drogas após ter sido punido por crimes de evasão fiscal cometidos entre 1988 e 1989: "Não sei como é o governo do Reino Unido com impostos, mas nos Estados Unidos levam muito a sério. Tive de vender tudo: a minha casa linda, os meus quatro carros, as duas motas, estava rapidamente a caminho da falência. Então, pedi emprestados 10 mil dólares a um amigo meu que era "fornecedor" de drogas no bairro e mudei-me para Los Angeles. Eu não me esqueci, eu simplesmente não paguei os meus impostos durante dois anos e meio, e tínhamos vendido 3 milhões de discos."

Em Los Angeles, começou a fazer espetáculos de rap para angariar dinheiro e foi aí que foi convidado para casa do produtor Quincy Jones. Esse convite foi a chave para o sucesso que se seguiu: Quincy convidou-o para ser a estrela de uma nova série da NBC, ‘The Fresh Prince of Bel-Air’ – ‘O Príncipe de Bel-Air’, na tradução portuguesa.

A série foi um êxito global e, a partir daí, nada parou o percurso em ascensão de Will Smith até se tornar num dos principais nomes de Hollywood, com participações notáveis em ‘O Dia da Independência’, ‘Homens de Negro’, ‘Eu Sou a Lenda’, ‘Em Busca da Felicidade’, entre outros filmes mediáticos.

 

AS TROCAS E BALDROCAS DO CASAMENTO COM JADA

Em 1994, uma jovem Jada Pinkett, amiga próxima de Tupac Shakur, vinha do seu primeiro papel de relevo na sitcom ‘A Different World’, um 'spin off' do ‘Cosby Show’ na NBC, idealizado pelo próprio Bill Cosby. Jada foi aos castings para uma outra sitcom da estação… ‘O Príncipe de Bel-Air’, e lá conheceu Will Smith. Apesar de não ter ficado com o papel, acabaria por encontrar o homem com quem se iria casar em 1997, e com quem teria dois filhos, Jaden e Willow, hoje com 23 e 21 anos respetivamente, e ambos já com carreira na música e na ficção, seguindo os pergaminhos do pai.

Em 2013, a relação ganhou contornos mediáticos quando Jada, numa entrevista ao ‘Huffington Live’, fez uma declaração que levou o público geral a pensar que estaria a revelar que o matrimónio entre os dois era aberto: "Eu sempre disse ao Will: ‘Podes fazer o que quiseres desde que te consigas olhar ao espelho e estar bem’, porque no fim do dia, o Will é um homem independente, estou aqui como sua companheira, mas ele é um homem independente. Ele tem de decidir com quem quer estar e isso não é algo que possa decidir por ele, e vice-versa." Pouco depois, a atriz sentiu-se na obrigação de esclarecer, numa carta aberta no seu Facebook: "O Will e eu podemos fazer aquilo que quisermos porque confiamos um no outro para o fazer. Isto não significa que estejamos numa relação aberta, mas sim numa relação crescida."

A partir daí, as declarações de Will e Jada sobre o seu matrimónio começariam a ganhar contornos cada vez menos ortodoxos. Em 2015, o ator esclareceu, perante os rumores à altura, que não iria divorciar-se de Jada. Três anos depois, no podcast ‘Rap Radar’, admitiria que se consideram "parceiros de vida" e não casados. 2020, durante a quarentena, admitiu que o período pandémico inicial a fez perceber que "não conhecia de todo" o seu marido.

RELAÇÃO COM OUTRO, COM A BÊNÇÃO DO MARIDO

A maior revelação chegaria ainda esse ano quando o rapper August Alsina afirmou ter tido uma relação com Jada e que Will lhe havia dado pessoalmente a sua bênção, acrescentando mesmo que se "havia entregado àquela relação" durante "anos" da sua vida. Inicialmente isto foi negado, mas pouco depois, o par veio a público num episódio do programa de Jada, ‘Red Table Talk’, no qual esta confirmou que, de facto, teve uma relação com August Alsina, mas que sucedeu durante um hiato na ligação a Will.

Pelo meio, e depois de Jada ter dado a entender no seu programa que a vida sexual com Willl já havia visto melhores dias, Will incluiria na sua autobiografia a seguinte passagem: "Estamos a sofrer a morte brutal das nossas fantasias românticas, o queimar da ilusão idealista de um casamento perfeito e de uma família perfeita. Nenhum de nós queria um divórcio: sabíamos que nos amávamos (…) mas a estrutura de vida que havíamos estabelecido estava a estrangular-nos."

A confirmação de que já não reinava a monogamia entre a dupla veio aquando de uma entrevista de Will Smith à 'GQ': "A Jada nunca acreditou no casamento convencional... ela tinha membros da família que tiveram uma relação não convencional. Por isso, cresceu de uma maneira diferente de todos nós. Houve muitas discussões sobre o assunto, sobre o que é a perfeição na relação? E na maior parte do relacionamento, a monogamia foi o que escolhemos, mas não pensamos na monogamia como a única forma. (...) Não aconselho o nosso caminho a ninguém. Mas as experiências das liberdades que demos um ao outro e o apoio incondicional, para mim, é a grande definição do amor", completou o ator. Não foi sequer o derradeiro caso na família, porque, nesta altura, também a filha Willow se revelou poliamorosa, em frente à mãe e à avó, Adrienne Banfield-Norris, num episódio de 'Red Table Talks.'

WILL VS ROCK

Hoje, todo o mediatismo relativo ao casal supramencionado parece incrivelmente minúsculo face àquele que se sucedeu ao incidente na gala dos Óscares do domingo passado, quando Will Smith subiu a palco e esbofeteou o comediante Chris Rock, após este ter feito uma piada na qual insinuava que Jada iria protagonizar uma sequela de ‘G.I. Jane’ – filme de Ridley Scott, de 1997, com Demi Moore de cabeça rapada no papel principal – com a nuance de que, no caso de Jade, se devia ao facto de sofrer de alopecia, uma condição caracterizada pela perda de cabelo.

Quem viu em direto apressou-se a comentar e a partilhar – num primeiro instante muitos terão pensado que seria algo combinado entre os dois atores, mas os impropérios com que Smith brindou Chris Rock, diretamente da platéia, ao "pedir" para não fazer piadas sobre a mulher, dissiparam essas dúvidas – e quem pelo mundo preferiu uma noite de sono aos Óscares terá sido invadido ao acordar pelos vídeos, 'memes', comentários e opiniões que o episódio desencadeou.

Naquela noite, Will Smith subiria ao palco mais uma vez, mas para recolher o seu primeiro Óscar de Melhor Ator, pela vastamente elogiada interpretação de Richard Williams, pai das tenistas Venus e Serena Williams, em 'King Richard: Para Além do Jogo', à sua terceira nomeação e com todo o favoritismo do seu lado. O momento em si era por demais previsível, dado o favoritismo que lhe era atribuído para a estatueta previamente ao evento pelas casas de apostas. Adivinhar a tensão que existiria nessa altura exata no Dolby Theatre, por seu lado, teria derrotado até o mais sortudo dos apostadores.

Muitos apressaram-se a recuperar o passado entre Will Smith e Chris Rock. Ambos coincidiram num episódio de ‘O Príncipe de Bel-Air’, em 1995, e surgem juntos em várias fotografias durante os mais variados eventos entre esse ano e o de 2012. Pelo meio, Chris Rock e Jada Pinkett Smith estiveram no elenco do filme ‘Madagáscar’, e, posteriormente, das sequelas. O facto de Jada ter estado com outros homens e da discussão sobre o casamento aberto levou a imprensa internacional a recuperar agora os tímidos rumores sobre um possível caso com Chris Rock – recentemente, Will declarou numa entrevista à CBS que nunca houve quaisquer acusações de infidelidade entre ele e Jada.

Mais notável foi a piada feita por Chris Rock em 2016 no mesmo Dolby Theatre, quando apresentou os Óscares, comparando o boicote que Jada decidira fazer naquele ano, como protesto com a falta de diversidade da cerimónia, com um boicote seu às cuecas de Rihanna: "Não fui convidado!" A reação de Jada, adjetivando ser alvo de piadas como ossos do ofício, não transpareceu nada de mais, mas não se afasta a possibilidade que tenha pelo menos contribuído para a situação que ocorreria seis anos depois.

No que toca ao que aconteceu esta semana no Dolby Theatre, o humorista optou por não apresentar queixa e recebeu, um dia depois, via redes sociais, o pedido de desculpas que Will Smith se recusou a fazer no seu discurso em palco, mas, para o 'príncipe', o mal estava feito e os próximos tempos adivinham-se incertos: esvair-se-á o impacto da bofetada na espuma dos dias ou acabará mesmo por manchar indelevelmente a reputação do enfim oscarizado ator? Só o futuro o dirá.

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