
Dois meses depois de ter estreado 'Alô Marco Paulo' e do programa ter recebido várias críticas, Marco Paulo confessa-se feliz com a liderança no horário das três às oito aos sábados à tarde, na SIC. Na casa onde vive há 35 anos, perto da serra de Sintra, e de onde o programa de televisão é emitido em direto, o cantor recebeu a FLASH! para uma conversa onde se falou de alegrias, de medos e de conquistas.
'Alô Marco Paulo' tem vindo a conquistar audiências. Como tem sido este desafio?
Sou um homem de desafios, mas quando me lançam um desafio, me fazem uma proposta, penso sempre que não vou conseguir fazer. Mas é sempre. Até num concerto meu. Penso sempre como vou fazer, mas depois chega o dia, chega a altura e faço. É a mesma coisa que aconteceu com o 'Eu Tenho Dois Amores' na RTP há 19 anos. Não tinha experiência nenhuma. Depois perdi a experiência que tinha adquirido na RTP e agora voltei novamente a caminhar devagarinho para voltar a fazer aquilo que também gosto de fazer, porque gosto muito de cantar e gosto muito de televisão. E quando me dão a oportunidade de ter um programa em meu nome na televisão fico muito lisonjeado. Fico muito grato e feliz.
Primeiro chegaram as críticas mas atualmente já lidera os sábados à tarde na SIC.
É verdade. Recebi tantas críticas por causa do primeiro programa, mas depois eles vieram todos a melhorar e agora sou líder de audiências naquele horário, das três às oito. A liderança do programa nas tardes de sábado significa que as pessoas reconheceram que o programa, a pouco e pouco, se transformou num programa tão simpático, tão agradável e as pessoas que não saem de casa ao sábado à tarde têm ali um programa que podem ver e que é muito familiar. Eu a cantar, os meus animais. A Zuca, o Nero e o burrinho já são parte do programa e as pessoas gostam muito.
Como é que lidou com essas primeiras críticas?
Não estava habituado! Sempre fui um cantor muito amado pelos portugueses, muito respeitado e depois quando comecei a ouvir essas críticas - que não tinham razão nenhuma de existir - pensei que as pessoas estavam a ser um bocadinho ingratas comigo. As pessoas já me conhecem há 55 anos. Já ando no mundo do espetáculo há 55 anos, não estou a começar mas ainda tenho de aprender. Ainda aprendo muito. Quando gravo um disco, quando estou a fazer um programa de televisão, quando vou a um programa de televisão, nem que seja só para cantar, estou sempre a aprender, portanto achei que as pessoas foram um bocado ingratas para mim, injustas. Porque o primeiro programa, embora seja num espaço que me é muito familiar, que é a minha casa, é um programa que não conhecia. Vinha sem saber nada.
"Não estava habituado a críticas. Sempre fui um cantor muito amado pelos portugueses, muito respeitado e depois quando comecei a ouvir essas críticas - que não tinham razão nenhuma de existir - pensei que as pessoas estavam a ser um bocadinho ingratas comigo"
A Ana Marques ajuda-o?
Tenho a ajuda preciosa da Ana Marques que é uma grande profissional, uma grande amiga que me ajudou imenso e que me ajuda. Já só pelo olhar dela já sei o que ela quer dizer e ela pelo meu sorriso já sabe o que eu quero dizer. É uma ajuda muito preciosa. Tenho a impressão de que estando sozinho tenho mais dificuldades. As pessoas não se apercebem da dificuldade que é estar a ouvir pessoas a falar na régie, a dizer agora vamos para intervalo e depois vamos fazer isto e aquilo. E às vezes sou um bocadinho distraído.
Depois das críticas chegou a liderança nas audiências. Como é que lida com essa responsabilidade?
É uma responsabilidade muito grande, porque toda a gente já se está a familiarizar com o programa, já sabem que ao sábado há programa. E recebo mensagens do Mundo inteiro, desde a Austrália a países de que nunca ouvi falar. Do Brasil e depois de Portugal. Repare, as audiências são muito importantes, é como dizer os meus discos de ouro, de platina e de diamante. Pode não ter importância para os outros mas para mim tem muita importância. Estão aqui cinco milhões de pessoas representadas. Quase 5,5 milhões de pessoas. São muitas pessoas que compraram os meus discos. E o programa está a ter tão boa audiência que me dá essa grande responsabilidade.
Fica nervoso?
Antes de...
É igual ao que sente quando sobe a um palco?
Sim. Antes de... Não sei qual é a reação que o público vai ter e portanto fico um bocado nervoso, mas assim que ponho os pés no palco e ouço a orquestra a tocar tudo isso passa e é um espetáculo. Sejam uma, duas ou três horas de espetáculo, uma pessoa nem se apercebe, nem dá por as horas passarem. Se tivesse antes de entrar sem vontade de cantar, porque às vezes isso acontece, porque não somos uma máquina de meter uma moeda e vá lá canta aí duas horas ou três que nós estamos aqui para aplaudir, mesmo assim não se pode falhar. Tem que ser sempre o melhor concerto que a gente faz.
Os seus fãs já devem ter saudades. Para quando o próximo concerto?
As minhas fãs estão com saudades e eu também tenho muitas saudades delas. Tenho saudades dos aplausos, tenho saudades de elas cantarem comigo, tenho saudades de me ver num palco. E quando eles são adiados custa-me muito. Já tive um agendado em Paris no passado e outro na Maia há uns meses e agora custou-me muito. Tenho agora um para 18 de setembro no Super Bock Arena no Pavilhão Rosa Mota no Porto.
"As minhas fãs estão com saudades e eu também tenho muitas saudades delas. Tenho saudades dos aplausos, tenho saudades de elas cantarem comigo"
Acredita que vai acontecer?
Se a pandemia me deixar, porque nós vivemos todos em sintonia com a pandemia. Se a pandemia baixar é mais fácil fazer-se o concerto. Se a pandemia continuar na mesma ou piorar com certeza que temos que voltar a adiar.
O Marco vive um momento feliz na sua vida?
Muito! É para compensar os momentos menos felizes que já tive na minha vida. Várias vezes. Quase todos os anos, nos últimos anos, tive problemas graves e complicados. Problemas que me podiam ter levado à morte.
"Quase todos os anos, nos últimos anos, tive problemas graves e complicados. Problemas que me podiam ter levado à morte"
AS DOENÇAS E COMO AS ULTRAPASSOU
O mais recente foi um cancro de mama.
Sim. O último cancro que tive foi aqui neste peito no lado direito, apareceram-me aqui uns caroços. Apareceram-me coisas que estranhei, que não achava normal. Felizmente que este já foi curado graças a Deus e a Nossa Senhora do Rosário de Fátima de quem sou devoto.
Devoto desde os 18 anos.
Desde os 18 anos. Ajudaram-me a que recuperasse de todos os problemas de saúde graves que tenho tido. Lembro-me de ter um princípio de um AVC no Porto mas sei porque é que isso me aconteceu andava extenuado de concertos de viagens, não me alimentava bem, porque quando terminava os concertos queria era ir deitar-me por causa da voz. Praticamente não almoçava, não jantava, não ceava e depois de muitos dias seguidos o corpo depois é que paga. E pagou. Tive um princípio de um AVC no Coliseu do Porto em que me apanhou uma veia.
"Estive entre 15 a 20 dias em que fiquei praticamente cego. Não via ninguém, não via nada"
Não foi há muito tempo.
Foi há dois anos. E essa veia tinha relação com a vista e eu fiquei cego. Estive entre 15 a 20 dias em que fiquei praticamente cego. Não via ninguém, não via nada.
Foi um susto?
Foi muito grande, mas ainda fui fazer três concertos mesmo sem ver. Vim do Porto, do Hospital de Santo António, fui ao meu médico, o Dr. Alves da Cunha, e depois não lhe disse nada que ia para os Açores porque queria ir fazer os três concertos. Fui proibido de viajar de avião para ir a Paris, ao Olympia. Estava tudo preparado para ir mas os meus médicos da CUF proibiram-me de andar de avião, mas entrou-me por um ouvido e saiu-me pelo outro. Tinha os concertos dos Açores e fui. Não via nada mas o problema não era na garganta, não era na boca.
E ninguém percebeu?
Ninguém se apercebeu. Durante horas que estive a cantar, em três concertos seguidos ninguém deu por isso. Ainda bem. Foi muito bom, mas quando cheguei ao camarim depois do terceiro concerto disse que não voltava a cantar mais. 'Não volto mais a cantar', disse eu para mim. Mentira! Está cá dentro.
Mas parar de cantar faz parte dos seus planos?
Há muitos anos que vivo da música. Vivo exclusivamente da minha voz há muitos anos. Da minha música, da minha voz, dos meus concertos, portanto governo a minha casa com a minha voz. Tudo é com a minha voz e portanto tenho que estar grato aos portugueses ao longo desses 55 anos. Com coisas boas, com coisas menos boas, mas isso faz parte da vida. Quem é que não tem? Não sou diferente de ninguém.
Aliás, a primeira vez que soube que tinha um cancro há 19 anos revelou ter muito receio de perder a voz.
Tive sempre muito receio de perder a minha voz. Quando tive o AVC estava no palco do Coliseu do Porto e de um momento para o outro deixo de ver e deixei praticamente de ouvir, ouvia a orquestra muito longe e só queria sair do palco para que ninguém se apercebesse que estava com um princípio de um AVC. Tinha uma dor de cabeça enorme. Sempre tive medo de perder a voz, de que não voltasse a cantar. Até agora neste último cancro, mas não. Graças a Deus tenho a impressão que Nossa Senhora deu-me uma voz ainda mais bonita (risos).
"Tive sempre muito receio de perder a minha voz"
Mas teve outros problemas de saúde.
Sim. Aqui nesta sala senti uma dor imensa enorme nos rins. Tive que ir para a Cuf e foi-me descoberto também um princípio de um tumor. Foi tirar e agora só tenho um rim e meio.
E depois de tantos problemas de saúde como é que se mantém assim tão jovem?
O gostar de viver, o gostar de fazer aquilo que faço, o ter tido uns pais encantadores, maravilhosos. O meu pai e a minha mãe que me deram o Mundo e eu poder ter nascido em Portugal e adorar este povo maravilhoso que são os portugueses. Ultrapassar os problemas de saúde dá-me vontade de viver e de estar assim com este ar que as pessoas gostam e eu também gosto (risos).
A FÉ EM NOSSA SENHORA DE FÁTIMA É também um homem de fé. Isso já é outra coisa. A minha fé já existe antes dos meus 18 anos. Tinha 18 quando fui a minha primeira vez a Fátima com a minha mãe. Ela é que me levou pela primeira vez, depois de eu ter tido um grande acidente de autocarro. Em Leiria tive um acidente muito grande. Fui cuspido pelo pára brisas da janela da frente e fui cair num quintal onde estavam muitas couves. Quando me levantei só me lembro que haviam couves e uma senhora à minha volta a gritar porque era o Marco Paulo e estava a deitar sangue. A minha vida não tem sido fácil. Não tem sido nada fácil nesse aspecto, mas tenho a sorte de dar a volta. "Sou um homem grato à vida e sempre eternamente grato a Deus e a Nossa Senhora, porque são sempre a minha tábua de salvação"
"Sou um homem grato à vida e sempre eternamente grato a Deus e a Nossa Senhora, porque são sempre a minha tábua de salvação"
É um homem feliz?
Se formos ver nesse aspeto depois dos problemas de saúde para os problemas que são do trabalho, considero-me um homem feliz. Sou um homem grato à vida e sempre eternamente grato a Deus e a Nossa Senhora, porque são sempre a minha tábua de salvação. A imagem de Nossa Senhora está ali, à entrada. Quando vou para o programa, vou ali rezar um pouquinho. Pedir a Jesus e a Nossa Senhora para que corra tudo bem. Quando vou para fora, viagens que faço vou ali também, portanto são a minha tábua de salvação. Normalmente costumo dizer que tenho duas mães. Tenho a minha mãe que me deu vida e depois tenho a minha mãe do céu que é Nossa Senhora.
O FILME DS SUA VIDA E A MÁGOA COM A TVI
O que é que o Marco ainda não fez que gostaria de fazer?
Uma série sobre a verdadeira história da minha vida e agora vai acontecer e é muito interessante. Vamos começar a filmar no fim do ano. Já há algumas pessoas escolhidas para a produção deste filme para a SIC. A SIC também achou que devia dar-me um programa com o meu nome e ser eu a apresentá-lo. Depois eu é que disse que gostaria que me dessem uma pessoa para estar comigo. Uma pessoa que fosse boa profissional e que fosse uma senhora. Começámos pela Ana Marques, depois a Bárbara Guimarães, e de novo a Ana.
Falou-se que outro canal de televisão, a TVI, teria interesse no Marco Paulo.
Sim.
"Pedir trabalho acho que não é crime. Mas eu não fui lá pedir nada e eles disseram que tinha ido"
Mas acabou por continuar com a SIC
É natural. Não é nada do outro mundo. Assim como se fosse pedir trabalho a um canal de televisão também não era nada do outro mundo. Pedir trabalho acho que não é crime. Mas eu não fui lá pedir nada e eles disseram que tinha ido.
Isso aborreceu-o?
Chateou-me. Fiquei triste. Magoado. Não esperava. Não me dizerem nada. Interessaram-se por mim. Queriam que fosse. Entretanto como não cumpriram com aquilo que tinham falado comigo não assinei e dei continuação ao trabalho que estava a fazer na SIC. Assinei contrato com a SIC de dois a três anos.
Tem contrato de exclusividade com a SIC?
Tenho entre dois e três anos e estou muito feliz por isso. Estou num canal de televisão que é líder em Portugal. Eu e as pessoas que trabalham comigo temos feito os possíveis para que o programa também seja líder e portanto estou muito contente. Todos me tratam bem, os meus fãs, os meus amigos. Só tenho pena de já não ter tempo para fazer mais coisas mas se conseguir fazer durante estes dois, três anos aquilo que a SIC tem de projetos para mim vai ser muito bom.
O 'Alô Marco Paulo' vai manter-se na nova grelha que vai ser apresentada em setembro?
Eu não sei, mas acho que sim.
A RELAÇÃO ESPECIAL COM O AFILHADO
Apoia-se na fé para ultrapassar os obstáculos mas os afetos também são importantes. Tem tido esse apoio?
Tive essa ajuda sempre das pessoas, da minha família, do meu afilhado Marco.
Mantém ainda uma relação muito próxima com o seu afilhado?
Muito, apesar de ele viver fora do país. Ele agora está no conservatório de música em Amesterdão, na Holanda. Já só lhe falta um ano para depois ele poder escolher o que quer ser. Se professor, se músico.
Não seguiu as pisadas do padrinho como cantor.
Eu pensava que ele viesse a cantar, porque desde pequeno que vai aos meus concertos. Ele tem 30, portanto quando ele nasceu já tinha 25 anos de carreira. Ele é o filho que não tive. Entrou nesta casa num cestinho quando veio do hospital, fui a pessoa que pegou nele pela primeira vez nos braços, portanto temos este afeto. Há esta ligação muito forte entre mim e o meu afilhado, por isso é que digo que gostava um dia de ser padrinho do casamento dele, dos filhos dele. Gostava de ter saúde e poder viver mais uns anos para poder acompanhar a evolução da vida do meu filho, porque é como se fosse um filho.
"Gostava de ter saúde e poder viver mais uns anos para poder acompanhar a evolução da vida do meu filho, porque é como se fosse um filho"
É também por isso que quer ficar por cá por muitos e muitos anos?
Gostava muito! Eu gostava de ser eterno mas com saúde. Gosto de viver, gosto das pessoas, gosto de Portugal, gosto de tudo aquilo que faço, dos meus discos, dos meus concertos, dos meus programas de televisão.
O MEDO DA MORTE
Costuma pensar na morte?
Eu tenho muito medo da morte porque assisti à morte da minha mãe e isso meteu-me muita confusão. Ver a minha mãe dentro de um caixão custou-me muito, muito. Tive a oportunidade de estar 15, 20 minutos sozinho com a minha mãe a desabafar com ela na capela antes de a levarem para o cemitério. De certeza que ela me ouviu e levou as minhas palavras para o céu que é onde ela deve estar. Está de certeza. E isso custou-me muito. Gosto muito de viver e gosto muito da vida. Gosto muito dos meus animais. Sou uma pessoa grata à vida e às coisas que a minha vida profissional me tem ajudado a ter porque sem a minha voz nunca poderia ser aquilo que sou, seria mais um entre todos. Quer dizer, sou mais um entre todos, mas não teria sido o Marco Paulo, o cantor que tenho sido. E acho que no céu, onde a minha mãe e o meu pai estiverem, devem estar muito orgulhosos de mim porque sou aquilo que, em criança, desejei que acontecesse na minha vida. Tirando os problemas de saúde, claro. Sou forte, sou corajoso, tento ajudar os outros com a minha mensagem. Nunca transmiti uma mensagem de coitadinho, porque há tantas pessoas que estão na mesma situação do que eu.
Chegou a pensar porquê eu?
O primeiro cancro que tive, em que fiquei paralisado do lado direito, foi um tumor que me apareceu mas nunca pensei nessa altura que ia morrer. Pensei sempre que me ia curar. Deus é grande, Deus não dorme e Nossa Senhora está lá e vai-me ajudar. Agora chorei muito e o meu chorar era um chorar de por que é que isto me aconteceu? Sou uma pessoa tão regrada. Deito-me cedo, durmo as oito horas que são necessárias para um corpo, para um ser humano poder aguentar. Não bebo. Só às refeições e depende do prato que me esteja a ser posto à frente. Não fumo, não me drogo e por isso talvez é que tenha questionado. Mas isso só demonstra que sou só cantor, não sou diferente de ninguém. Sou igual a toda a gente e por isso é que mereço o respeito, porque através desta minha situação de saúde passei a respeitar muito mais as pessoas que têm problemas de saúde. Crianças, idosos, pessoas novas. É preciso ter muita atenção e muito respeito por essas pessoas.