Dois anos depois, o documentário explosivo sobre o Titan e os relatos que mostram como a tragédia podia ter sido evitada
Documentário sobre a tragédia do submersível, que implodiu a 3800 metros de profundidade, dá voz a ex-funcionários da OceanGate, que contam como o CEO da empresa, Stockton Rush, queria a todo o custo tornar-se no Elon Musk dos mares e ignorou todos os relatórios e avisos de segurança feitos em prol do seu grande sonho. "Roçava o psicopata clínico. Era um narcisista. Como é que se consegue gerir alguém assim sendo que ele também é o dono da empresa?", deixa no ar um dos engenheiros do Titan.Há dois anos, o mundo ficou preso aos noticiários para acompanhar o desaparecimento do Titan, o submersível perdeu o contacto com a embarcação de apoio quando levava um grupo de milionários a ver os destroços do Titanic. Entre o que era conhecido acerca da embarcação da OceanGate, sabia-se que o tempo urgia: os ocupantes só tinham oxigénio disponível para aproximadamente quatro dias. No entanto, acabaria por se saber mais tarde que, apesar das buscas incessantes da guarda costeira dos EUA, apoiada por vários meios, já nada havia a fazer uma vez que o Titan implodiu cerca de 45 minutos após o mergulho, provocado pela pressão extrema do mar, a uma profundidade de 3800 metros.
Pouco depois de apoio, o submersível, que comunicava a 15 minutos com o exterior, deixou de dar quaisquer sinais, naquilo que deixava antever a catástrofe entretanto confirmada. A bordo seguiam Hamish Harding, empresário e explorador britânico, o milionário paquistanês Shahzada Dawood e o filho, Suleman, Paul-Henry Nargeolet, comandante da Marinha Francesa e especialista em Titanic e Stockton Rush, CEO da OceanGate.
Ao longo dos últimos dois anos, muito se tem escrito acerca da tragédia, mas é no documentário agora exibido pela Netflix que podemos encontrar respostas a algumas das questões que foram feitas ao longo dos anos. Através de relatos de quem trabalhou na empresa, dos testemunhos do caso em tribunal e de pessoas que privaram com as vítimas e que conheciam os meandros da empresa, somos convidados a conhecer a história da OceanGate e, sobretudo, do seu CEO Stockton Rush.
A sua ambição é descrita por todos aqueles que fizeram parte da empresa do submersível. De alguma forma, os relatos dão conta que ele queria ficar para a história, ser uma espécie de Elon Musk dos mares, e que foi essa ambição cega que levou a que, durante anos, ignorasse os avisos que lhe foram feitos sobre as graves falhas de segurança que, se tivessem sido tidos em conta, poderiam ter evitado a tragédia.
São vários os antigos funcionários que falam disso. Há diversos relatórios, feitos à época, que alertam para o facto de o Titan ser uma bomba prestes a explodir a qualquer momento, que a fibra de carbono utilizada como material-chave para a embarcação não era 100 por cento segura, que havia outras viagens realizadas no limite da segurança e que estiveram a um ponto de conhecer o mesmo desfecho. Mas que, perante os alertas, a reação era sempre a mesma. Conhecido pelo seu feitio temperamental Stockton Rush não fazia caso dos avisos, pensava estar no controlo da situação e afastava quem decidisse fazer-lhe frente ou colocar entraves às suas expedições, que acreditava estarem a um ponto de se tornar numa grande tendência entre milionários.
"Trabalhei para alguém que provavelmente roçava o psicopata clínico. Definitivamente, era um narcisista", disse Tony Nissen, ex-diretor de engenharia da OceanGate, numa das declarações mais impactantes do documentário. "Como é que se consegue gerir alguém assim sendo que ele também é o dono da empresa?", deixa no ar, num sentimento comum a todos aqueles que trabalharam com Stockton Rush e que vai de encontro a uma das mensagens mais fortes por de trás do documentário: este fim poderia ter sido rescrito.
"Aquilo que espero que o público venha a compreender, é o facto de este desastre ter sido completamente evitável”, disse o realizador Mark Monroe.
Entre os relatos dos funcionários, os depoimentos em tribunal, carregados de angústia, o documentários leva-nos a perceber as histórias dos cinco homens que perderam a vida num sonho pelo fundos dos mares que se transformou no maior pesadelo, num alerta para os muitos perigos que se correm hoje em dia neste segmento de turismo de luxo especial onde se tenta sempre chegar mais longe, ao inatingível e que, face à solidez das viagens, deixa os ocupantes num limbo de perigo de que, tantas vezes, podem não estar cientes.