Pornografia , masturbação e mentiras: esclarecidas as dúvidas sobre as 'Doce' e o seu filme
O filme sobre a história da primeira 'girlsband', embora seja uma obra ficcionada, ainda que baseada em factos verídicos, veio revelar muitos segredos sobre a banda que chocou um país que, à época, era muito conservador.
Fátima Padinha, Teresa Miguel, Lena Coelho e Laura Diogo foram as quatro cantoras escolhidas para constituir a primeira 'girlsband' portuguesa, as 'Doce', uma banda que nasceu nos anos 80, pela mão de Tozé Brito e Cláudio Condé.
Agora, chegou aos cinemas 'Bem Bom', um filme ficcionado mas que se baseia em muitos factos reais. "1979. Quatro jovens são contratadas para formar uma girlsband. Elas sabem cantar, brilham a dançar e escandalizam o País… Elas tornam-se um fenómeno de popularidade. Elas são as Doce", lê-se na sinopse do filme.
Patrícia Sequeira, a realizadora, deu uma entrevista à revista 'Máxima' e revelou alguns segredos. Falou por exemplo da provocação que foi, nos anos 80, um grupo de quatro mulheres que cantavam canções que falavam de sexo e prazer.
"Esta banda representa qualquer coisa que eu queria que este filme também representasse. Por exemplo, elas eram extremamente modernas para a época. E por isso eu quis que este filme não fosse um filme de época. Quero filmá-lo com aquilo que eu hoje tenho, com as possibilidades que tenho, com os olhos de hoje", começou por explicar a realizadora.
Prosseguiu: "Portanto tudo o que elas representavam, a ousadia, os planos, a câmara ficar no rabo delas a abanar, é porque elas provocavam qualquer coisa no espectador e a câmara também poderia ter esta possibilidade de ir mais perto. À época, a câmara ficava atrás a ver quatro mulheres num plano fixo. Quis adotar a modernidade, a ousadia, quis que o filme provocasse aquilo que elas provocavam. Elas provocavam coisas nos homens e nas mulheres, e eu também quis provocar isso", esclareceu à referida publicação.
Patrícia Sequeira acredita que as 'Doce' fizeram muito pela empoderamento feminino na época: "Há mulheres que realmente começaram a subir a bainha da saia, a por batom, a arranjar-se porque nós somos também aquilo que vemos à nossa volta. As Doce... se calhar fizeram mais do que as feministas à época. Até porque a Maria Teresa Horta disse que [as Doce] eram pornográficas. 40 anos depois eu olho para isto e sim, eu não tenho muitas dúvidas de que este produto, consciente ou não, estavam a abrir caminho para alguma coisa, ou a permitir a nós mulheres fazer uma série de coisas, inclusive a maneira como nos vestimos, a forma como podemos ter prazer", acrescentou na entrevista à 'Máxima'.
A realizadora fala ainda da polémica cena da masturbação: "A cena da masturbação é super ousada. Se me pergunta: tem cabimento no filme, disseram-me para tirar? Sim. Exatamente por isso é que eu não a tirei. Acho que tudo o que provoque algum choque foi exatamente aquilo que elas provocaram. E eu hoje tenho a possibilidade de não tirar".