
A noite eleitoral teve algumas inovações, umas mal conseguidas, outras que correram melhor. No domínio cénico, a RTP continua a dar cartas nestas emissões, aproveitando bem a dimensão dos estúdios e os meios técnicos ao dispor. Pena que os conteúdos sejam sempre sofríveis, a começar pela péssima escolha de comentadores (até a ex-diretora Maria Flor Pedroso foi recuperada, reaparecendo na estação que dirigiu). A crise grave que o canal público está a atravessar prejudicou o desempenho nas eleições autárquicas, visto que o canal 1 ficou claramente em último, a grande distância das concorrentes privadas. Está a consolidar-se a ideia de que a RTP já não conta para a liga principal de televisão, o que é injusto sobretudo para o pivô, José Rodrigues dos Santos.
Já a SIC utilizou um ecrã interativo para dar resultados em tempo real, da responsabilidade de Bento Rodrigues. O dispositivo é eficaz, mas merecia um trabalho de grafismo melhor do que aquele que foi apresentado: era pouco claro, nada intuitivo. O trabalho gráfico da SIC nestas eleições, aliás, não fez jus à tradição da estação, com pouca informação, pouca eficácia e esteticamente pouco conseguido. O dinamismo da emissão, contudo, bateu aos pontos tanto a RTP1 como a TVI. O canal 4 teve uma autêntica inovação mundial em matéria de coberturas eleitorais, apresentando grafismos de candidatos sem a referência aos respetivos partidos, que foram trocados por cores, numa lógica bizantina que ninguém entende, fruto eventualmente de alguma inexperiência da máquina neste tipo de ocasiões.
A opção de sair da informação e meter no ar o Big Brother foi bastante danosa para a imagem do canal: não ganhou em audiências, nem em prestígio. Pelo contrário: o autêntico filme de suspense em que se transformou a eleição em Lisboa, até ao desenlace, com vitória de Carlos Moedas, aumentou em muito a atenção dada a estas eleições autárquicas.
INFORMAÇÃO - VULCÃO
A erupção na ilha espanhola de La Palma foi alvo de trabalhos de enviados especiais das três televisões generalistas portuguesas, numa rara opção consensual de cobertura jornalística. A opção é discutível, atendendo ao facto de as melhores imagens do vulcão em atividade serem fornecidas por agências internacionais, mas na verdade enriqueceu os jornais de RTP1, SIC e TVI porque deu uma perspetiva aproximada do susto e do sofrimento humano causado pela erupção vulcânica. Fica o aplauso.
PROGRAMAÇÃO - SÁBADO EM GRANDE
A TVI ganhou à SIC por uma diferença de 3 pontos e meio no sábado passado. Um resultado anómalo para o passado recente das estações, e que se justifica sobretudo pelo sucesso do fenómeno Festa É Festa, mas que, na verdade, arrastou vários formatos ao longo do dia – o Alta Definição de Daniel Oliveira voltou a fazer um mau resultado, o programa de Marco Paulo também se ressentiu. Além disso, o sábado já é de há algum tempo a esta parte um dia da semana que a SIC monta com alguma fragilidade de oferta, sobretudo em prime time. Mais tarde ou mais cedo haveria uma surpresa deste género.
SOBE - CARLOS MOEDAS
É o grande vencedor da noite eleitoral. Conquistada a presidência da autarquia alfacinha, vê abrir-se à sua frente um futuro político radioso. Trata-se de mais uma vitória eleitoral de alguém cujo desempenho nos debates televisivos não foi imediatamente entendido como vitorioso – na verdade, a opinião publicada até lhe deu derrotas, tanto no debate da SIC como no da TVI. Afinal, ganhou, numa prova de que os debates não são tão decisivos como se pensa, opinião que o leitor sabe que partilho.
DESCE - FERNANDO MEDINA
O grande derrotado das eleições autárquicas era comentador na TVI. Mais uma prova de que a televisão não é suficiente para eleger presidentes. No passado recente, o comentador Medina chegou a ser poupado a perguntas sobre buscas da PJ à câmara no próprio dia da ação policial. Os espectadores são muito mais inteligentes que muitos dos decisores de televisão imaginam.
DESCE - ANTÓNIO COSTA
É naturalmente um dos derrotados das eleições, porque o partido que lidera, apesar de ter ficado à frente, ficou sem a câmara da capital. Mais importante ainda, Costa perde um discípulo e possível sucessor, porque a carreira política de Medina chegou ao fim. O comportamento excessivo de Costa na campanha, com um misto de promessas, milhões & bazucas, foi penalizado pelo eleitorado jovem e urbano da capital.