
"Como pai, estou emocionado, é como se fossem as nossas crianças lá dentro, na gruta." A emoção descrita por um dos mergulhadores envolvidos na missão de salvamento, na Tailândia, sintetiza na perfeição o estado de espírito que uniu o mundo em redor de um drama de proporções absolutamente inéditas. Para quem nunca fez turismo na Tailândia, a existência destas grutas, verdadeiras armadilhas mortais, foi uma surpresa e um choque.
O esforço que uniu mergulhadores, médicos e emergência médica de todo o mundo transformou-se num autêntico filme de suspense, em que 12 rapazes e um adulto foram retirados do interior do buraco escuro, a intervalos regulares, e, à medida que se concretizava cada um dos resgates, a boa nova seguia para todo o mundo, qual sinal metafórico de um renascimento emocionante.
Em Portugal, o acompanhamento televisivo de um acontecimento deste tipo teve a dificuldade que advém do facto de se tratar de um acontecimento do qual não há imagens. Além disso, e com excepção do caso de Judite Sousa, analisado acima, e de João Carreira, da Lusa, que relatou em directo para a CMTV, eram escassos os relatos jornalísticos a partir do local.
A falta de imagens e de jornalistas portugueses na Tailândia foram dois obstáculos, torneados de forma diferenciada, mas competente, pelos canais nacionais de informação, com recurso a explicações de especialistas, quer de mergulho, quer de socorro médico ou psicológico em situações de crise extrema. Cada vez mais os canais de notícias são o fulcro do consumo televisivo entre nós.
FUTEBOL DE PRAIATalvez nem tenha a ver com a força da modalidade. Os bons resultados televisivos do futebol de praia acentuam, antes, o valor da marca "seleção". Assim foi, mais uma vez, Domingo passado, em que, mesmo em pleno drama na gruta da Tailândia, quase 200 mil pessoas assistiram ao Portugal-Espanha, na CMTV.
O TRIUNFO DO VÍDEO-ÁRBITRO
Em Portugal, por diversas circunstâncias que agora já não interessam nada, a defesa do vídeo-árbitro esteve muito associada a um projecto fascisto-populista que ameaçou o futebol nacional. O Mundial marcou o amadurecimento do projeto do VAR, que até pode aumentar a emoção do jogo. Fiquei convencido!
"NÃO HÁ CRISE!"Tem sido assim nos últimos anos, na SIC. Chega o Verão, e com ele o formato de apanhados 'Não há Crise!' Há um ano, referi que o programa é vítima da ideologia dominante em Carnaxide, e na televisão clássica em geral, ideologia essa que considera que o os formatos de baixo orçamento não são adequados para os canais tradicionais. E, assim, a SIC gasta milhões nas noites de Domingo, mas no Verão gasta apenas tostões nos apanhados, e em geral tem melhores shares. Aí está, de novo, a mesma receita. Esta semana, 22,2% de share. Má notícia para quem?
JUDITE NA TAILÂNDIA
Hoje em dia, parece haver uma espécie de passatempo nacional que consiste em escrutinar ao detalhe qualquer trabalho de Judite Sousa, e acentuar erros, falhas ou equívocos, que sempre os há na carreira de um profissional de excelência. Naturalmente, não embarco nesse terrorismo das redes sociais. A ida para a Tailândia cobrir o drama da gruta deve ser louvada por todos os observadores.