
'A Rede' é um conjunto de três reportagens alargadas, emitidas em três dias consecutivos no 'Jornal da Noite', da SIC. A organização de uma grande reportagem em episódios é um dispositivo raro, mas eficaz, que demonstra confiança no trabalho em causa. A emissão em episódios é, também, sintoma de uma mentalidade desempoeirada, porque adapta à informação alguns truques da ficção, como o recurso ao suspense para agarrar os espectadores.
Ora, isto não é habitual na SIC, pelo que constitui novidade relevante, e veremos se frutifica. O tema da reportagem é um embuste criado nas redes sociais, que envolveu pessoas desconhecidas numa torrente de emoções que acabou por ter consequências dramáticas para a sanidade mental de quem foi apanhado. Os três episódios desenvolveram-se num crescendo rumo à descodificação do criminoso, ou seja, de quem inventou pessoas, relações e sentimentos e as envolveu numa rede falsa com vítimas verdadeiras.
A surpresa final, ao descobrir-se que a culpada era uma professora absolutamente normal, é um desenlace de enorme qualidade. Muitas vezes, o problema das reportagens grandes, também designadas por grandes reportagens, é um certo deslumbramento do jornalista consigo próprio, que faz prevalecer a linguagem adjetivada sobre a própria realidade. No caso de [Conceição] Lino, a narrativa é escorreita, a linguagem depurada e há um respeito absoluto pelos factos. Resultado: deu gosto ver, e o jornal da SIC liderou nos três dias em que 'A Rede' nos enleou a todos na sua narrativa de qualidade.
EM DEFESA DE MARIA
Quando Goucha troca o nome de Cerqueira Gomes e a trata por "Cristina", isso é mais do que um ato falhado. É sintoma do que aí vem, mais tarde ou mais cedo. Antes que Maria Cerqueira Gomes seja culpabilizada pelo flop das manhãs, fica já aqui dito: ela é a menos culpada pelo falhanço do 'Você na TV!'.
VIDEOÁRBITRO
Extraordinário espetáculo de televisão, o Sporting-Benfica de domingo passado. O videoárbitro está quase no ponto, com a ótima solução encontrada que permite ao espectador acompanhar as imagens que esclarecem as dúvidas, ao mesmo tempo que o árbitro de campo. Uma ressalva: para a TV, o facto de os jogos serem à tarde empobrece o espetáculo.
GENTE QUE NÃO SABE ESTARHá um caso de amor entre o país e Ricardo Araújo Pereira. Esse caso de amor tem agora uma nova manifestação. Desde o primeiro episódio, Araújo Pereira lidera e puxa o resultado do jornal da TVI para cima. As ideias geniais, como a de medir o atraso da Justiça pelo ritmo do cante alentejano ao longo do primeiro alinhamento, enchem a televisão de inteligência. A rubrica ocupa o espaço que já foi do comentador Marcelo, pelo que é arriscado prever qual a evolução que vai ter o "gente que não sabe estar".
TENSÃO NA RTPA nova direção de Informação tarda a dar sinais de melhoria. O 'Telejornal' não faz a diferença, a RTP3 aproxima-se do padrão "BolaTV". Esta semana houve plenário explosivo. Flor Pedroso diz que aceitou o desafio, não por um imperativo jornalístico, mas porque "estava cá o Tó Zé Teixeira", indispondo os outros elementos da sua equipa. Não há segunda oportunidade para causar uma boa primeira impressão!