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Pedro Chagas Freitas
Pedro Chagas Freitas COMO F***DER UM CASAMENTO Manual Prático para Mul

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Duelo

Duelo: s.m. Momento em que tens a coragem de te contestar. É a solo que as grandes batalhas se vencem.
21 de novembro de 2016 às 00:00
Foto: Getty Images

Sou um segredo, um mistério, uma porta entreaberta. Resistir à tentação de ocupar o segredo é uma espécie de maturidade, e de humanidade. Não pretendo entender o que me precede e ao que faço, ao que penso, ao que sinto. Pretendo aceitar o enigma, construir com base nele, num processo em que só se descobre o que há muito está descoberto. São essas, as daquilo que já estávamos fartos de saber, as melhores, e mais saborosas, descobertas. É assim que, dia a dia, me descubro, ao retirar o pano transparente que cobre o preconceito. Há quem tema o banal, que banalidade, e eu preciso dele para me desbanalizar. A excepção tem de ser a regra.

É urgente olhar para o elementar. Passamos os dias à procura de contrariar o óbvio, o que em si nada tem de mau, mas esquecemo-nos de o valorizar, e até de o ver. 

Gosto, às vezes, de trazer distúrbio ao básico. No outro dia, por exemplo, afirmei que as rodas são quadradas, e todos em redor saltaram imediatamente em defesa da circularidade da roda. Quis ir mais longe, argumentei já nem sei bem como, mas com veemência, com seriedade, em defesa da minha tese acabada de construir. Em poucos minutos já todos me explicavam tudo e mais alguma coisa sobre a roda, como nasceu, para que serve, que percurso teve. Cedi, enfim, à evidência, e todos se sentiram vencedores, sobretudo eu, que fiz com que a banalidade fosse, para aquelas pessoas, valorizada como o excepcional que também é. Assim tem de ser: o banal de hoje é, pelo uso, o excepcional de ontem, que coisa estranha. Aproveita-a enquanto podes.

Esforçamo-nos tanto para lembrar e tudo o que somos é esquecimento, e é assim que tem de ser. Os acontecimentos são feitos do que passa, e não do que fica. É por isso a capacidade de esquecer um dos grandes motivos para a sobrevivência. A memória serve para matar como serve para amar, diria até que as memórias são a melhor forma de sofrer, uma delas, pelo menos. Somos, enquanto raça, enquanto planeta, a soma de tudo aquilo que soubemos, por mais que o tempo tenha passado, recordar; mas somos ainda mais a soma de tudo aquilo que, por mais que a dor e a mágoa apertassem, soubemos esquecer. Nunca te esqueças disso.

A felicidade profunda provavelmente é a paz: deitar, acordar e andar com a sensação do mundo completo dentro de nós. Existe, depois, a felicidade imediata, a que nos destempera as veias e nos transporta para o fim do mundo, um precipício momentâneo, um segura-me que vou-me a ele. Precisamos efectivamente de quem por vezes nos segure, os grandes saltos exigem, acima de tudo, um exímio trabalho de preparação, uma boa colocação de pés no chão para que o momento do impulso, e o próprio impulso, aconteça na dose certa, decisivo. Há dias, todavia, que nos atropelam, impossibilidades que nos esvaziam, perdas que nos desimpulsam, perdoe-se-me o neologismo. A felicidade, repita-se até ser lei, é provavelmente a paz, que é como quem diz o amor, que é como quem diz tu, ou pensavas que se safavas ilesa disto tudo?

Duelo: s.m. O mesmo que verdade.  Só se pode combater aquilo que somos capazes de reconhecer.   

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