
1.
A maturidade não é encontrar respostas; é encontrar as melhores perguntas.
- Não é, não é, não é?
As crianças perguntam até saberem, são insistentes até conseguirem, brincam até se cansarem, vivem até caírem para o lado de tanto viver – e ainda lhes chamam infantis.
Infantil é não amar, escreva-se nos muros e nas paredes da cidade, nos muros e nas paredes de todas as cidades – de todos os mundos, diriam os mais pequenos, fartos de saber que muitas vezes é necessário viver noutros mundos para suportar o que este nos dá.
- Não é, não é?
E ainda lhes chamam infantis.
2.
Quando o tempo passa tenta não passar com ele: é com isso que as pessoas tendem a passar-se.
- Passo o tempo a dizer-te isto. Não sei como é que nunca mais aprendes.
Os adultos enchem-se de regras, de aprendizagens forçadas, daquilo que tem de ser porque fica mal ser de outra maneira. O que fica mal é não amar, passar pelo tempo a vê-lo passar, esconder um prazer por detrás de um medo.
Que se dane o que fica mal: é isso o que nos faz ficar mal, escreva-se nos muros e nas paredes da cidade, nos muros e nas paredes de todas as cidades – de todos os mundos, diriam os mais pequenos, fartos de saber que muitas vezes é necessário viver noutros mundos para suportar o que este nos dá.
- Não é, não é, não é?
E ainda lhes chamam infantis.
3.
Antes de crescer acreditava no amor eterno; agora vivo-o.
- Amo-te para me impedir de crescer.
Os apaixonados são boas pessoas, as únicas boas pessoas do planeta inteiro. Um apaixonado é, em tudo, um apaixonado. É por isso que resiste ao que dói, ao que atrasa, ao que falha, ao que perde. Um apaixonado resiste à vida: não vejo, aliás, outro modo de resistir à vida. Há quem acredite que se sobrevive sem amor; e está certo: sem amor é apenas isso que se consegue fazer – sobreviver, habitar num espaço de anti-euforia, de anti-emoção, e por isso também de anti-depressão ou de anti-desilusão, valha isso a merda que valer.
Há-de haver algum motivo maior do que amar para estar vivo, mas eu não o conheço, escreva-se nos muros e nas paredes da cidade, nos muros e nas paredes de todas as cidades – de todos os mundos, diriam os mais pequenos, fartos de saber que muitas vezes é necessário viver noutros mundos para suportar o que este nos dá.
- Não é, não é, não é?
E ainda lhes chamam infantis.
4.
O problema do mundo é o excesso de adultos.
- Sou viciado em notas, sobretudo nas de chocolate.
Há quem dê ao dinheiro o papel principal, mas o papel do dinheiro é verde, mais nenhum. E cheira mal, e é uma porcalhice sem igual. É de chocolate e de orgasmos que se fazem as recordações. Olha imediatamente para trás, para o que viveste, e pensa: algum dos teus momentos inesquecíveis não teve chocolate ou orgasmos? Se sim, esquece: os teus momentos inesquecíveis são uma trampa.
Toca a criar novos, daqueles a sério. Vá, vá, não percas tempo. Somos sub-pessoas antes de amarmos uma pessoa, ou de abrirmos uma embalagem de chocolate, escreva-se nos muros e nas paredes da cidade, nos muros e nas paredes de todas as cidades – de todos os mundos, diriam os mais pequenos, fartos de saber que muitas vezes é necessário viver noutros mundos para suportar o que este nos dá.
- Não é, não é?
E ainda lhes chamam infantis.
5.
- Quando for grande quero exactamente aquilo que quiser.
E tu: o que queres?
Gueto: s.m. Lugar onde se juntam pessoas que se unem por um motivo preciso; agora pensa: o que te fez juntar a quem se juntou a ti?