
— Contigo vou até ao fim do mundo.
Foi o que ele disse quando a encontrou, mais de dois anos passados desde aquela noite e menos de dois segundos antes de encostar os seus lábios nos dela.
— Já lá cheguei.
Acrescentou, no final do beijo.
O amor é o fim do mundo e não deixa de ser o começo do mundo, por nenhum motivo em especial, apenas porque o amor, quando é amor, é todo o mundo, desde o começo até ao final.
— Deixa-me em paz.
Começou por dizer ela, fazendo com que ele, de imediato, se afastasse um metro.
— O que estás a fazer?
Perguntou-lhe depois, ao mesmo tempo em que o puxava para si e o abraçava com toda a força do mundo (desde o começo até ao final).
— Deixa-me em paz.
Repetiu ela.
E desta vez ele entendeu que aquilo — ela nela e ela nele, os braços dele ao redor da cintura dela, os corpos colados — é que era, enfim, a paz em que ela queria que ele a deixasse.
Ele deixou.
O amor é a paz e não deixa de ser o sobressalto, por nenhum motivo em especial, apenas porque o amor, quando é amor, é tudo o que se sente, desde a paz até ao sobressalto.
— Estou farto de ti.
Ela teve vontade de chorar: ainda nem um ano de casamento tinham e ele já lhe dizia aquilo, tão seco, tão sem meias-medidas, tão a doer. Ela teve vontade de chorar e chorou mesmo.
— De nada mais necessito na vida porque estou farto de ti: completo de ti.
Explicou finalmente ele, em mais uma prova de que as palavras são apenas e só o que queremos que elas sejam, que ninguém duvide disso.
Eles não duvidaram.
O amor é o que nos esvazia de nós e não deixa de ser o que nos enche, por nenhum motivo em especial, apenas porque o amor, quando é amor, é tudo o que nos ocupa, desde o vazio até à abundância.
— Se morres morro.
Disse-lhe ela, junto ao final dele.
E cumpriu.
Remédio: s.m. Produto usado para curar aquilo que nos ataca o corpo. Ao que se usa para curar aquilo que nos ataca a alma chama-se amor.