
A vaga de insegurança que sacode a Europa depois dos atentados de sexta-feira, 13, em Paris resulta do velho aforismo que diz, depois da casa roubada, trancas à porta e o desvelo com que as autoridades de mostram em repetidas ações de combate ao terrorismo são, em si mesmas, reveladoras deste alvoroço que não serve nem o corpo, nem a alma.
Já foram demasiados atentados para que não se perceba quem são, como se formam, como conspiram, como se organizam os terroristas. Basta olhar para o histórico de cada um deles, dos percursos realizados, as vidas que viveram e como adquiriram as determinações que os conduziram à morte, matando.
O combate dramático a que hoje assistimos não tem soluções unilaterais. Não se resolve desmantelando esta ou aquela célula de jihadistas. Muitas outras ficam por descobrir. Não se resolve com bombardeamentos que atingem alvos estratégicos mas não atingem o ideário que faz multiplicar terroristas. Nenhuma ação policial ou militar consegue acabar com os fenómenos de desilusão social e frustrações de expectativas que empurra milhares de jovens para os exércitos do Estado Islâmico. Não só muçulmanos. Muitos milhares são europeus, nascidos e criados em espaços da União Europeia.
Não se pode combater este fenómeno sem a presença solidária e activa dos Estados árabes, alguns deles que são as principais vítimas dos massacres, outros tantos que olham o fenómeno com bonomia, ao lado das forças ocidentais.
Não é possível!
Não é possível combater o terrorismo, isolar os criminosos, sem romper com o preconceito que liga muçulmanos, religião, política e assassinatos. É o primeiro e maior desafio: explicar que a religião muçulmana não é a exaltação do massacre. É uma herança cultural riquíssima. E de paz.
Para isso é necessário mobilizar a comunidade muçulmana, interpelar os países árabes para uma atitude mais ativa nesta luta, interpelar os governos e as comunidades europeias sobre as políticas de exclusão, de frustração no que respeita às expectativas de futuro dos mais jovens, no sentido de criar confiança de que o futuro é possível com valores universais de paz e tolerância.
Até lá, viveremos esta emoção estonteante de lágrimas, palavras de ordem, discursos formais e atos esporádicos de retaliação. Estamos, de facto, em guerra. Mas o inimigo é a ignorância.