
Evocou-se na passada semana o encerramento do campo de morte de Auschwitz, nome que horror e que ficou como símbolo da infinita crueldade que o ser humano é capaz de produzir. Era apenas um dos muitos campos de concentração, espalhados pela Europa, onde foram exterminadas milhões de pessoas. Construídos por alemães europeus que assassinaram milhões de europeus. Essa guerra mundial, como qualquer outra guerra, gerou migrações em massa, gente que fugia do medo e da morte recolhendo a lugares que nunca imaginaram conhecer. Nessa turbulência indescritível ganhámos fama. Um cônsul português, Aristides Sousa Mendes, desobedecendo às ordens de Salazar, emitiu dezenas de milhares de vistos que salvaram inocentes perseguidos de uma morte certa.
Ainda não tínhamos respirado fundo com tranquilidade pelo fim do pesadelo da guerra e eis que os europeus, por razões ideológicas, levantaram mais muros, feitos de militares, de arame farpado, de betão que dividiam o continente em dois. Para cá do Muro de Berlim. Para lá do Muro de Berlim. Durante décadas, os europeus dividiram-se em campos opostos, inimigos, e com a ajuda dos Estados Unidos, mediram a força dos seus argumentos como o crescimento como nunca fora visto de arsenais de guerra capazes de destruir o planeta várias vezes.
Essa decisão europeia afastou a guerra para as margens. Para o Médio Oriente, para África, produzindo sempre milhões de refugiados desesperados.
Até que outros europeus, liderados por Jean Monet, inventaram uma outra Europa com alma. Que assumia a Liberdade, a livre circulação de pessoas e bens, a Paz e a tolerância como os grandes valores pelos quais a Europa haveria de cumprir o seu destino histórico. Porém, fora do velho continente, a guerra não acabou. No Médio Oriente sempre. Depois circulando por África. Depois no Afeganistão, no Iraque e por aí adiante, até aos países vizinhos, junto as fronteiras dos europeus. Os refugiados nunca deixaram de existir. E de repente, a mais nova das Europas baqueou. Crescem muros na Áustria e na Hungria, arame farpado multiplica-se no acesso a Inglaterra, expropriam-se os bens a quem chega à Dinamarca. Concluindo: Não aprendemos nada. Os europeus continuam a ser os mesmos bárbaros de outrora. Sem memória. Sem um pingo de memória pelos milhões de mortos e refugiados que são a sua própria História.