Então vamos lá ver se eu percebi bem esta história: a SIC compra um formato que já foi da TVI para fazer um reality show capaz de combater 'Big Brother'. Até aqui, na teoria, tudo certíssimo! Acontece que o formato é 'A Quinta' – que há 20 anos, e se eu não estiver a enlouquecer com esta história, deu lugar à 'Quinta das Celebridades', aquele programa que tornou famosos José Castelo Branco e Alexandre Frota e fez parar Portugal inteiro. Depois da versão "celebridades", a TVI ainda se aventurou no formato "mais ou menos anónimos", já com menor sucesso mas ainda a fazer brilhar muito boa gente. E eis que, agora, a SIC toma posse do nome e transforma um formato de sucesso, anteriormente contado em antena em versão live e em galas semanais, numa espécie de 'Quem Quer Namorar com o Agricultor?', onde os campos floridos dão lugar ao inverno rural.
A esta constatação a SIC pode responder, simplesmente, que nos programas dela manda ela. E com razão. Mas, diga-se em abono da verdade, se a ideia era fazer isto, mais valia estar quieta. E se a questão é dinheiro, ou seja, trazer uma novidade mas a custo mais baixo, de novo, mais valia estar quieta.
Todos sabemos, há mais de 20 anos, que reality shows não são o forte da estação. Por isso, decidiram chamar a 'Casados à Primeira Vista' – emitido no tempo das vacas gordas do canal, quando tudo parecia abençoado – uma "experiência social". Só que essa fase passou e voltámos à realidade nacional e não àquela que adapta formatos australianos ao nosso público com sucesso. Os exemplos de insucesso sucedem-se nos últimos tempos, e culminam agora com isto: uma 'Quinta' em diferido, supereditada, enfadonha e que perde o melhor que o formato pode dar: a espontaneidade, os "desastres" da vida no campo, as surpresas que despertam gargalhadas ao público urbano.
De forma que aqui deixo um provérbio brasileiro: "passarinho que voa com morcego acorda de cabeça para baixo." À SIC o que a SIC sabe fazer bem: humor e entretenimento familiar. Não se meta com reality. As audiências acabam de cabeça para baixo.
