
Escrevo esta crónica no meu sofá após uma derrota sofrida da nossa seleção com a Bélgica. No meu papel de treinadora de "sofá", como a maioria dos portugueses, atrever-me-ia a dizer que o jogo foi uma seca, que a seleção andou ali a trocar bolas e que, para não variar, ao melhor estilo tuga, na hora do "ai que vamos ser corridos" acordou para a vida e começou a correr. Não chegou. Não marcámos e os jogadores foram de férias mais cedo do que o que gostaríamos.
No final, o treinador Fernando Santos surgiu com o seu ar sofrido, de quem nem quer ouvir falar em mau trabalho, disse que tinha jogadores a chorar, que todos jogaram muito bem e pronto. Facto: não fomos apurados. Facto: podemos ter tido mais oportunidades, podemos ser "os maiores" e os mais queridos, mas não fomos eficazes. Consequência: eliminados.
Agora, vamos lá comparar o que se passa no futebol com o que se passa no País. Somos uns queridos, nós, neste nosso Portugal. Há coisa de dois meses metemos na cabeça que a pandemia já era, repetimos "isto já não fecha", fizemos nossa a voz de governantes e de "sábios" que espalham doutrina da treta nas redes sociais. Como bons treinadores de sofá, opinámos e fixamo-nos na estrada de forma mais ou menos afoita. Afinal, já estávamos – como não cansávamos de repetir – no "pós-pandemia".
Depois vieram os abraços do Sporting e os ingleses no Porto. Mas veio muito mais do que isso – as lesões de que ninguém quer falar: vieram as aglomerações de adolescentes na noite (com o dinheiro e a conivência dos pais), as tardes na esplanada sem máscara (dos próprios pais), veio a confiança e o "estamos todos muito cansados".
Pois estamos, mas agora vamos ficar muito mais: cansados, fartos de estupidez, exaustos com este País capaz do 8 e do 80, que só acorda para a vida naquele momento do "aí que vamos ser eliminados". Pois vamos. Porque podemos ser muito bons e muito fofos, mas somos uma vergonha de falta de eficácia e de capacidade de raciocínio. Um bando de preguiçosos e de carneiros à espera de um Estado protetor, de uma bênção do Além, que em vez de pensar pela própria cabeça acata e põe as culpas nos outros e na "pouca sorte". A sorte faz-se. Por isso, vamos para casa, no futebol e na vida, de castigo pela falta de eficácia e de cabeça nos momentos todos.A ver se é com (mais) esta lição que abrimos a pestana.