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Luísa Jeremias
Luísa Jeremias No meu Sofá

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Ricardo, ou a quarta-feira de cinzas que chegou antes de tempo

O Rio e a Globo tornaram-se uma segunda casa de verdade para mim, pelo tempo que lá passava, pelo à-vontade que ali se sentia, pela forma simples de levar a vida. Esses tempos custaram-me um divórcio mas ganharam-me uma nova forma de encarar a vida.
15 de dezembro de 2023 às 06:00
Ricardo Pereira
Ricardo Pereira Foto: Facebook

A primeira vez que estive na Globo foi em 1997. Era fevereiro. Tinha chegado ao Rio nunca quarta-feira de cinzas, pós-carnaval, em clima de ressaca de festa que teimava em continuar nas ruas onde ainda se viam os despojos da folia. Na década de 90, fazer trabalho na Globo era muito diferente do que é hoje. Havia ainda um clima de família, de portas abertas a jornalistas, que contrastava com a alegada insegurança noticiada nas ruas. Foi nessa corda bamba de entrevistas marcadas em apartamentos da Vieira Souto, de tarde de "sábado das campeãs" no Sambódromo em que subia o morro do Vidigal atrás de um teatro-obra social, de água de coco gelada na beira da praia para recuperar do calor, que fui conhecendo a Cidade Maravilhosa, o PROJAC – o então centro de produção das novelas da Globo – e as suas gentes.

Tudo com aquela alegria de "primeira vez", de fascínio tropical, possivelmente semelhante àquele que Cabral e sucessores sentiram quando desembarcaram naquele porto. O Rio e a Globo tornaram-se uma segunda casa de verdade para mim, pelo tempo que lá passava, pelo à-vontade que ali se sentia, pela forma simples de levar a vida. Esses tempos custaram-me um divórcio mas ganharam-me uma nova forma de encarar a vida, com a capacidade de não levar as coisas tão a sério, a não ser as que fossem realmente importantes – e que não são assim tantas no nosso dia a dia. Desses tempos guardo amigos até hoje e também aquele cheiro de asfalto e vegetação, misturados com maresia, como só no Rio é possível.

Não foi aí que conheci Ricardo Pereira, que viria a tornar-se o responsável da TV Globo em Portugal, que liderou por longos anos. Não foi mas podia ter sido... porque, na verdade, parecia que nos conhecíamos "de sempre". Falávamos a mesma língua, linguagem, e olhávamos a vida da mesma forma: só se leva a sério e que é, de facto, sério. O Ricardo partiu esta semana, no mesmo ano que a minha mãe e que a Rita Lee. Acredito que, por esta altura, estejam a compor letras de música no céu – ou lá onde estiverem agora. Valeu, Ricardo! A gente se vê por aí.

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