
Comecemos pelo princípio, para a história ser bem contada: numa reunião recente com os precários da RTP, o presidente do conselho de administração disse-lhes que "o grupo tem grandes restrições para contratar", tentando justificar deste modo o facto de continuar a não reconhecer centenas de trabalhadores a recibos verdes, mesmo que haja uma decisão judicial para integrar uma parte significativa nos quadros – já para não falar nos 10 anos sem qualquer actualização salarial na empresa.
E o que fez Gonçalo Reis, dias depois do encontro com os precários? Deu luz verde a Maria Flor Pedroso para ir buscar duas jornalistas consagradas, Cândida Pinto e Helena Garrido, para a direcção de Informação, tendo para isso de pedir excepções ministeriais a Mário Centeno para garantir estes reforços – em dois anos, recordo, são seis contratações ao exterior, contando com António José Teixeira, Ana Lourenço, Joana Garcia e André Macedo.
Obviamente Maria Flor Pedroso tem toda a legitimidade para querer formar a sua equipa da direcção de Informação. Obviamente não está em causa o valor das jornalistas – os currículos de Cândida Pinto e de Helena Garrido falam por si.
Mas, obviamente, ficámos a saber que o presidente do conselho de administração da RTP diz hoje uma coisa e faz outra (bem diferente) no dia seguinte. E por isso, obviamente também, após este episódio que se junta a tantos outros desde que assumiu responsabilidades na estação pública, Gonçalo Reis parece ter perdido todo e qualquer respeito por aqueles que trabalham, dia após dia, na Av. Marechal Gomes da Costa – e em todas as delegações do País e das ilhas. O título do violento comunicado da Comissão de Trabalhadores é, aliás, bem explícito: "Uma pouca-vergonha!"
Segue-se um plenário na próxima semana, marcado pela Comissão de Trabalhadores, cuja adesão deverá ser histórica e na qual em cima da mesa vai estar um único tema na ordem de trabalhos: greve. Com a revolta e a indignação instaladas na empresa com mais este acto de gestão de Gonçalo Reis, teme-se o pior, quando muitos pedem já, inclusive, a cabeça do senhor administrador da "nossa" RTP. Tem a palavra o Governo.