
Ninguém tem dúvidas de que a violência doméstica é um, entre muitos, graves problemas que afetam o nosso País. Toda a classe política sabe que muita da violência nas escolas, entre alunos, resulta da mimetização da violência que testemunham em casa. Hoje, já são poucos aqueles que reconhecem que a solução das casa-abrigos para as mulheres vítimas de violência doméstica é a solução salvífica para os casos que repetidamente surgem pelo País.
Ninguém desconhece que a média de trinta mulheres assassinadas por ano às mãos de companheiros, maridos é líder absoluto de homicídios em Portugal. E os jornais publicam as estatísticas que, anualmente, situam as participações deste crime em volta dos trinta mil casos, cuja cifra negra é, seguramente bem maior do que os números conhecidos.
Hoje, poucos ignoram que a Justiça é o limite dos limites para reagir a este fenómeno. E, mesmo assim, quando reage não é tão assertiva quanto necessária.
São poucos aqueles que esquecem que por detrás destes números, da brutalidade deste flagelo social, estão crianças que ficam órfãs devido à morte das mães e à prisão dos pais. Milhares de crianças a quem o futuro é amputado, entregues a instituições de ação social.
Este complexo de problemas, que no final é um somatório de tragédias, que revelam uma sociedade disforme, subdesenvolvida, culturalmente desnutrida, incapaz de se mover para a mobilização cívica em torno dos grandes problemas nacionais. E entre estes, a violência doméstica pontifica com exibicionismo infame.
Dito isto, passemos à campanha eleitoral. Que, agora, está a chegar ao fim. Embora não fosse o único tema excluído dos debates entre os candidatos, não deixa de ser extraordinário que nenhum dos partidos em condições de eleger deputados, assumisse o combate a este flagelo como prioridade nos seus programas políticos. Nem um!
Nem sequer foi tema aflorado nos debates televisivos que, mais não foram, à semelhança de anteriores debates, onde se despejam culpas e denunciam culpados, tão vazios, tão iguais como as duas metades do mesmo zero, como dizia Guerra Junqueiro. Ainda não foi desta!