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Francisco Moita Flores
Francisco Moita Flores Piquete de Polícia

Notícia

O tempo não quebra

O tempo não quebra. Na sua lenta mutação, sucedendo dias e noites, meses após meses, é uma força externa às nossas vontades e expectativas como um rio lento de magma vulcânica que apenas a morte interrompe. Nem a política, nem a economia, nem a saúde, nem atividade criminosa muda porque o ano mudou. Habitam um tempo diferente, lento, por vezes parece-nos viscoso, que resiste às alterações que desejamos quando ingerimos as doze passas ao tocar o primeiro minuto do novo ano.
09 de janeiro de 2022 às 06:00
Ano novo, champanhe
Ano novo, champanhe Foto: Pixabay

Quando entramos num ano novo, na sua véspera e nos dias que se lhe seguem, multiplicam-se os votos de sucesso, de vidas mais felizes, enfim, de um conjunto de desejos positivos que os nossos leitores conhecem, na forte ilusão que o fim de um ciclo e a abertura de um novo tempo do calendário quebre mágoas, acrescente alegrias, irradie esperança e a realização de projetos. Reforça a ilusão, o facto de ser comemorado com ritos e festividades, pelo mundo inteiro, com regozijo, festa, vinho e comida, elementos fulcrais do nascimento de uma nova idade.

Porém, não passa de um desejo construído e reforçado pela celebração mundial da sua chegada. Na verdade, o tempo não quebra. Na sua lenta mutação, sucedendo dias e noites, meses após meses, é uma força externa às nossas vontades e expectativas como um rio lento de magma vulcânica que apenas a morte interrompe. Nem a política, nem a economia, nem a saúde, nem atividade criminosa muda porque o ano mudou. Habitam um tempo diferente, lento, por vezes parece-nos viscoso, que resiste às alterações que desejamos quando ingerimos as doze passas ao tocar o primeiro minuto do novo ano.

No que respeita à violência, e querendo desde logo mostrar-nos que pouco muda, para além do nosso próprio lento envelhecimento, celebrada a festa, multiplicaram-se crimes bárbaros. Com a violência doméstica, a velha violência doméstica contra a qual tantos se batem, a marcar a sua cruel permanência. Noutros tempos, antes da criação das grandes metrópoles de Lisboa e Porto, sintetizavam-se os motivos dos homicídios em AAA. Amor, Álcool, Água. O primeiro deles remetendo para a violência doméstica. O segundo para a alucinação e alterações de personalidade decorrente do excesso de consumo de álcool, o terceiro relacionado com as questões de propriedade, partilhas de terras, de águas, etc.

As metrópoles de Lisboa e Porto ganharam um peso decisivo a partir dos finais dos anos cinquenta e inícios dos anos sessenta do século passado. Porém, apesar de algumas alterações no quadro do homicídio, ainda é a trilogia AAA, nascida na Idade Média, que comanda o assassinato. Como se percebe, não mudámos tanto assim.

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