
2021 despede-se tão cinzento como os dias de temporal que temos vivido. Foi assim mês após mês. Cercados pela pandemia, expropriados dos nossos direitos, desconfiados com medo, testemunhando vagas atrás de vagas e os caprichos do vírus, envergando novas roupitas, e mutação diferente. Um ano que se batalhou para vacinar muito com a fé de que ela rompesse as barreiras que a Covid criou. A primeira dose para os mais velhos. A primeira dose para todos. A segunda dose para os mais velhos. Primeira dose para as crianças. A segunda dose para todos. A terceira dose para os mais velhos. Desprovidos de arsenal farmacêutico que faça frente à epidemia, apenas armados de vacina, não totalmente eficaz, enfrentando o imprevisível, quisemos acreditar que, agora, era de vez. À descida da primeira vaga, os senhores do reino proclamaram o milagre português. À descida da segunda vaga, foi proclamada a libertação. Conversa demagógica. Afirmações sem escrúpulos e sem horizonte no olhar. E aqui estamos, pronto a encerrar 2021, confinados, em sofreguidão por testes e autotestes, desorientados, temendo o primeiro mês de 2022 e novas vagas. Para agravar a situação, estamos a um mês de eleições e já se percebeu que a campanha eleitoral vai gerir os nossos receios, as nossas desconfianças, aproveitado o vírus para a manipulação política. Para instrumentalizar a nossa insegurança e seduzir-nos pelas manobras do medo.
Não sei como irá ser a aflição em 2022. Sei que nos encontra mais pobres, mais enfraquecidos, mais velhos, mais cansados, mais desiludidos.
Vai ser necessário reconstruir a coragem. Precisamos de encontrar energias. Descobrir farrapos de esperança em qualquer lugar. Nunca necessitámos tanto da nossa autorreflexão para encontrarmos as forças que a vida nos roubou. Mais uma vez, a História se encarregou de mostrar que os mitos sebastiânicos não passam de mitos. A geringonça evaporou-se. O Presidente da República é uma penumbra no nevoeiro que chega de Alcácer Quibir, a Justiça coxeia, a Educação mirrou, a Saúde sangra. Que 2022 traga vigor aos leitores, que lhe entregue ânimo e, sobretudo, que nos devolva a esperança. Chegou o tempo de tomarmos o nossos destino nas mãos. Bom Ano Novo!