
Está instalada uma atmosfera de insegurança, de descrença, de medo que se expressa no noticiário que, dia após dia, nos anunciam as vésperas do Apocalipse. Às notícias da guerra na Ucrânia, de falhanços políticos, como foi a semana passada com o aeroporto, o próprio aeroporto é notícia, enxameado por multidões de passageiros com viagens adiadas, as Urgências hospitalares, a falta de meios adequados para que se cumpra o Estado social, a que se associam sinais de violência doméstica, rixas com mortos e esfaqueados, gente que morre abandonada, perturba o nosso viver coletivo e esconde discussões e desafios que continuam escondidos na espuma dos dias.
É certo que o Governo terá a sua quota de responsabilidade neste estado geral. Porém, julgo existirem os indicadores que vale a pena ter em conta neste momento difícil do País. Um deles tem a ver com a nossa saúde mental antes e depois da pandemia e da guerra. Embora haja um grande esforço para fazer de conta que tudo continua como anteriormente, a verdade é que se pressente um clima de instabilidade muito tributário das inseguranças, dos medos, das preocupações que durante os últimos três anos têm sacudido a população. Desconfio que o chamado "novo normal" é uma anormalidade. Basta ler as notícias criminais para se perceber que a esmagadora maioria está associada a ansiedade, a depressão e a outras manifestações patológicas do foro mental para se perceber que algo não está bem. A alienação tornou-se na primeira, e em muitos casos, necessidade. Fugir da realidade. Fugir do aparente precipício pelo qual parece que caminhamos. Projetar na ilusão, na crispação, no faz de conta os quotidianos, numa perpétua quimera que não afasta os problemas, apenas cria a aparência de que eles não existem.
Talvez seja apenas uma sensação pessoal. Na verdade, das grandes discussões e debates sobre a Saúde que diariamente incendeiam as nossas vidas, reparo que esta questão continua fora dos assuntos em agenda. Porém, é percetível para o cidadão mais desatento que os níveis de agressividade aumentaram substancialmente, ainda que não tenha grande reflexo no aumento da violência criminal. É importante que se faça um diagnóstico da saúde das nossas cabeças. Para que regressemos a uma normalidade serena e criadora.