
Chegou o sol e as noites ficaram amenas. Tornou-se numa marca geracional ver os jovens, em grandes grupos defronte a cervejarias e bares, armado de uma garrafa de cerveja e telemóvel. O telemóvel tornou-se um apenso anatómico, a ‘mini’ a mais líquida expressão do prazer. As noites, sobretudo as de sexta-feira e sábado, são o lugar da efervescência. Do encontro. E do desencontro. As ‘minis’ multiplicam-se, aqueles que falam, pois, a maioria não desliga das redes sociais por onde se convocam amigos, criam a ilusão de poder e de maturidade e, de súbito, desencadeia-se a luta. Murros, socos, pontapés, tiros, navalhadas. Pelo caminho ficam alguns jovens mortos. Talvez embriagados, talvez vítimas da embriaguez dos agressores.
A verdade é que as noites mais alcoólicas, mete cervejas a rodos, uns charros para compor o ambiente e o desastre chega com mais frequência. No último fim de semana, mataram dois deles. Um em Quarteira, outro no Monte da Caparica.
Durante as cenas violentas, o telemóvel entra em ação. Não para pedir ajuda. Não para alertar do perigo. Simplesmente para filmar as cenas de pancadaria e os cadáveres que sobram e, de imediato, colocar o psicodrama na rede social que garanta mais visualizações e gostos. Não há adrenalina tão saborosa como divulgar a morte e a violência.
Não são de hoje, estes comportamentos selváticos. Com a chegada do verão, aumenta a sede de ‘minis’ e de adrenalina a que o telemóvel dá vazão.
Não tenho nada contra os telemóveis, nem contra as ‘minis’. Porém, estamos perante verdadeiros comportamentos aditivos. Dependências que se multiplicam perante a indiferença dos pais e dos educadores. Começa a chegar a hora de discutir sem preconceito, sem ser ‘velho do Restelo’, estas novas drogas que estimulam os jovens para a ausência, para a incapacidade crítica, para alienação. Começa a chegar a hora de proclamar a inteligência contra o embrutecimento, a sonhar em vez dos caminhos da obsessão e do pesadelo. Contra a dependência. Contra a morte.