
O Relatório de Segurança Interna sobre a atividade criminosa participada em 2022 foi divulgado na passada semana sem grande triunfalismo. Até com uma habilidade política de forma a esquecer a dimensão panfletária que teve durante os anos da pandemia. Nesse tempo, com a população fechada em casa, com a vida económica reduzida aos mínimos, com a mobilidade cercada, o número de crimes baixou drasticamente, coisa que levou a então ministro da Administração Interna e o Governo a cantar aleluias sobre a grande eficácia policial para a segurança do País. Não era verdade. A propaganda escondeu as circunstância excecionais que levaram a essa queda abrupta. A pandemia terminou e a atividade criminosa subiu inexoravelmente para os patamares normais que se relacionam com quotidianos normais. Portanto, fez bem o atual Ministro da tutela ao comparar o ano de 2022 com 2019, passando por cima da lamentável manipulação de resultados que as restrições da Covid impuseram.
Deve dizer-se, por outro lado, que este Relatório peca por excesso de percentagens, pelo relacionamento de curta duração, isto é, compara percentagens de um ano com um outro, em detrimento de análises de média e longa duração onde se revelam tendências mais coerentes com a necessidade de melhor organizar a prevenção e o combate a certo tipo de crimes.
Por outro lado, é apresentado como se contar crimes fosse uma mera estatística policial e não é. Esses números incorporam comportamentos humanos, revelam a entropia social e dão sinais sobre a turbulência criminal, exigindo decisões políticas e não policiais. É o caso do aumento da delinquência juvenil, no que respeita à violência e às suas relações com o território. Deve se lida à luz dos problemas concretos da vida pública, da frustração, do desamparo, da exclusão, decorrentes das dificuldades de emprego, de habitação, de sucesso, de realização frustrada de expectativas, de um certo caos social onde crescem e aprendem os expedientes criminais como oportunidades para se libertarem da miséria ou da injustiça. Não é por acaso que são as grandes metrópoles que sentem, com maior impacto, o crescimento da delinquência juvenil. São os territórios, por excelência, para serem lugar da desordem. E do consumo como ideal de vida. E é a política que comanda estes lugares. Não é a polícia.