
Não é fácil ver alguém morrer. É um momento de estremecimento e medo que amputa, destrói e nos toca, como se parte de nós morresse naquele instante. Mesmo que aconteça com pessoas que desconhecemos.
Foi a surgimento do fantasma da morte que assistimos em direto no decurso do jogo para o Europeu entre a Dinamarca e a Finlândia. O internacional dinamarquês, perto da linha lateral, ensaiou uma corrida, deu três ou quatro passos e caiu fulminado. O estádio gelou. Os repórteres que estavam a seguir o encontro, ficaram sem palavras, os jogadores de ambas as equipas acorreram, assim como os médicos e na memória de todos a ideia de que Erikson acabara de morrer à nossa frente. Não seria a primeira vez. Já víramos a tragédia num campo de futebol com as mortes súbitas de Pavão e de Fehér. Imagens que ficam para sempre e que levantam as perguntas de sempre. Como é que atletas altamente vigiados clinicamente, transpirando saúde, morrem desta maneira tão inacreditável? Os mistérios da Vida e da Morte são insondáveis.
No caso do jovem atleta dinamarquês, o pronto socorro dos médicos de serviço salvaram-lhe a vida. Porém, o choque vivido pelos presentes no estádio, e por todos quantos viram através das televisões vai ficar retido por muito tempo. Porque fomos confrontados com a única certeza que nos habita. Em dia em hora que desconhecemos, todos iremos morrer, e em todos os nós existe o sonho de atingir a imortalidade, ou pelo menos, a amortalidade. É a mais profunda contradição humana.
Para quem acompanhou as notícias durante o resto do dia percebeu o nível de destruição provocado pela presença traiçoeira da morte naquele recinto desportivo. O Campeonato da Europa foi dissolvido pelas notícias sobre o estado de saúde do atleta. Acorreram aos vários canais, cardiologistas, cirurgiões a explicar ao pormenor o que acontecera e os processos hipocráticos para salvar Erikson.
A medicalização do medo coletivo foi, na verdade, uma sessão contínua de conselhos e prevenções perante um caso de doença súbita. E como disse um dos especialistas, tenha cuidado, caro leitor. Ao menor sinal de alarme ligue para o 112.