
Escuto ilustres comentadores, muitos deles militares, analisando, criticando, fazendo balanços sobre o conflito que opõe Israel ao Hamas. Não os contradigo porque não estudo, nem estudei, o eterno conflito que decorre no Médio Oriente desde que me conheço. E já lá vão 70 anos.
Depois de um intervalo pacífico, a guerra recomeçou com mais violência e brutalidade inaudita. Dir-me-ão os leitores que vesti as roupetas dos velhos do Restelo, mas sou impiedoso na seguinte afirmação: não vai haver paz entre Israel e palestinianos. Pode diminuir a chacina, podem acalmar os gritos de guerra, porém, a breve trecho, tudo voltará à violência que marca estes dias por aquelas bandas.
É certo que existem razões humanitárias para apelar ao fim do conflito. É certo que a fome de paz e as súplicas para que ela regresse, sejam o pedido de toda a gente que recusa a guerra. É certo que Israel tem legitimidade para se defender e, também é certo, que os terroristas do Hamas possuem estratagemas cobardes protegendo-se entre a população. É certo que a carnificina destruiu milhares de vidas e matou milhares de inocentes.
Mas também é certo que nenhum dos contendores tem pressupostos de paz nas suas motivações. Nem racionalidade. Nem sentido de humanidade. Pela simples razão que é o ódio que comanda esta disputa. Um ódio irracional, o desejo absoluto de extermínio de parte a parte. Um ódio antigo que se levanta das mortalhas de centenas de milhares de vítimas ao longo de décadas, onde nenhum dos lados reclama justiça e apenas exige vingança.
As teoréticas que sustentam a política de dois Estados assentam numa ilusão. As conversações de paz serão sempre um pequeno intervalo para sepultar cadáveres e chorar vítimas. O financiamento para a sobrevivência e ajuda àqueles povos serão sempre desviados para a obsessão das armas e dos conflitos. O ódio absoluto está semeado naqueles territórios. Tomar partido por um dos lados, neste momento, é escolher um dos rostos do ódio. Não há racionalidade política que o vença, não existe um pingo de compaixão para que ele se desvaneça. Não é uma guerra. É pior. Um destino trágico sem fim.